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[REVIEW] Forager – A liberdade para se prender em um jogo

Podemos dizer que Forager foi criado com diversos ingredientes diferentes: uma porção de Stardew Valley, uma dose de Animal Crossing e gotinhas de outros jogos que exploram mecânicas de crafting e simulação. Porém, a característica que difere Forager desses jogos é a liberdade.

Lançado em abril desse ano para PC, Forager chega ao Nintendo Switch com aquela carinha de “jogo de uma pessoa só”, com as devidas inspirações, mas sem perder a sua essência de originalidade.


Ficha Técnica

Título: Forager

Plataforma: Nintendo Switch

Tamanho: 135 MB

Desenvolvedora/Publicadora: HopFrog / Humble Bundle

Jogadores: 1

Em Português: Sim

Gênero: Aventura, Simulação, RPG, Puzzle

Save na Nuvem: Sim

Classificação: Livre


O começo de Forager fala muito sobre o que o jogo nos reserva. Um personagem caricato, uma picareta e algumas árvores e pedras para destruir. Essa atividade está presente em 90% da jogatina, a grande sacada é o quanto você consegue evoluir “fazendo a mesma coisa”. Então, se você não se identifica com essa repetição, esse jogo definitivamente não é para você.

Por outro lado, se a sua praia é “trabalhar” também nos video games, prepare-se para usar sua criatividade para explorar os diferentes caminhos em Forager.

Presenteei a pessoa que você gosta com um rabanete

Como tudo funciona

A criação de itens e construções é muito explorada em Forager, sendo, basicamente, um processo de: destruir recursos naturais para obter matéria-prima -> realizar construções com esses materiais -> produzir itens mais valiosos nessas construções. Há diversas opções de itens e construções.

Além desse ciclo, o jogo traz outras mecânicas que o deixa ainda mais complexo: uma árvore de habilidades, que desbloqueia itens e construções e aprimora o seu personagem e as suas terras; o nível do personagem, que rende pontos para usar nessa árvore de habilidades; e uma mini história (sendo bonzinho ainda) que é contada conforme a evolução de cada aspecto do jogo.

O grande objetivo é conseguir moedas para comprar todas as terras. Assim, novas áreas são desbloqueadas e é possível obter itens e construções cada vez mais raros. Para evoluir todo o seu ecossistema e completar esse objetivo, há diversas alternativas para conseguir moedas: plantar, cozinhar, investir na criação de bancos, explorar dungeons que dão itens ou craftar minérios.

E o melhor: não é preciso seguir só uma estratégia de evolução, é possível progredir em diferentes áreas do jogo simultaneamente. Em um momento posso estar focado em melhorar meu equipamento, em outro posso investir em terras para o plantio. Basta fazer a sua escolha de acordo com o seu nível.

Agora, o que sobra nesses elementos de Forager, faltou na história.

Não precisava, mas…

A narrativa do jogo é bem qualquer coisa. Os desenvolvedores nem disfarçaram o quanto a jogabilidade é mais importante. Toda a trama é evoluída conforme novas áreas são desbloqueadas e novos personagens nos são apresentados (normalmente eles aparecem quando uma terra é comprada). A maioria desses NPCs não carregam informações importantes para aquele universo, mas conseguimos deduzir algo só pelo o que eles são, como uma princesa, um mago etc.

As dungeons de algumas áreas só servem para completar desafios de combate ou puzzle, oferecendo uma recompensa no final. Seriam melhores aproveitadas com pedaços da narrativa que contassem alguma história.

Apesar de eu não concordar com o argumento que “um jogo para ser bom precisa ter história”, é decepcionante Forager ignorar totalmente os mistérios de seu universo. Por outro lado, melhor essa decisão do que entregar algo mal feito e pobre, apenas para cumprir o rito de ter uma trama por trás da jogabilidade.

Não desista de Forager

A história não é o único “calcanhar de Aquiles” em Forager. No caminho encontramos outras fraquezas, porém ainda não é a hora de deixar esse jogo de lado.

Um dos primeiros problemas detectados em Forager é o exagero de elementos que servem como matéria-prima para as suas criações. Eu explico: árvores, pedras, minérios e plantações surgem “do nada” nas suas terras para que o looping do gameplay não seja quebrado. Ou seja, você tem um campo vazio, mas poderá andar livremente por ali por pouco tempo, já que surgem árvores, pedras e minérios de uma forma assustadoramente rápida.

Não demora muito tempo para que você se veja cercado por esses elementos e precise, constantemente, destruir uma pedra ou uma árvore apenas para circular por aquele espaço. Imagina só aqueles jogadores que adoram ver suas fazendas, em Stardew Valley, organizadas e alinhadas pixel por pixel. Se você é desse tipo, prepare-se para ter um ataque do coração em Forager.

Mas calma, pois há soluções para isso – mesmo que implantadas erroneamente. Primeiro, é possível evoluir sua picareta, principal ferramenta de destruição em Forager. No último nível, ela é capaz de queimar os objetos e explodir para causar um dano em área. Outra opção é o Obelisco Minerador, que tem a função de atacar automaticamente, dentro de uma área limitada, esses elementos que dropam matéria-prima. É possível desbloquear e evoluir essa construção na árvore de habilidades.

Parece perfeito né? Uma picareta que explode coisas e armas programadas para te encher de matéria-prima. Isso é verdade, mas o problema é a demora para se alcançar este nível de facilidade. O Obelisco Minerador é um dos últimos itens a ser desbloqueado, sem contar que não fica muito clara a sua função – seria preciso uma descrição como “destrave isso e pare de passar raiva com árvores nascendo a todo segundo”. A picareta sofre do mesmo mal: é preciso desbloquear muitos itens e construções para se chegar à perfeição da coleta de matéria-prima.

Forager possui outros “probleminhas” deste tipo, como o armazenamento de itens. Esse, inclusive, é um dos fatores que pode afastar o jogador logo de cara. Funciona da seguinte forma: logo no início é possível usar matérias-primas básicas para criar outros itens, como tijolos, linhas, couro etc. Obviamente, isso vai lotando o seu inventário e não demora muito para começar a apresenta a maldita mensagem: “Meu inventário está cheio”.

Então, já é preciso começar a gerenciar os seus itens, descartando os que não terão utilidade no momento e mantendo os mais importantes. Isso fica maçante, tanto por estar no começo da sua aventura quanto pela proposta de um jogo como Forager.

Além da demora para “resolver” esse problema, sendo preciso passar por várias etapas para aumentar o seu espaço, o jogo dificulta ainda mais: o cofre, a mochila e as habilidades que evoluem o seu inventário não estão claramente apresentadas no jogo. Em alguns momentos, foi preciso deduzir que certa evolução me traria mais espaços no meu inventário.

Apesar desses obstáculos, há sempre outras atividades a serem feitas em Forager. Sem contar o desafio e a satisfação ao conseguir evoluir os seus processos até que tudo funcione de forma orgânica.

Na minha experiência, precisei jogar 20h para conseguir o nível mais alto da picareta e da mochila, habilitar o Obelisco Minerador e construir cofres com capacidades para todos os itens. E, de uma forma geral, esse tempo me deixou com a sensação que todo o processo valeu a pena.

Direção de Arte e Desempenho

Forager faz o que lhe é exigido na parte artística: o jogo é bonito e carrega algo de original; a trilha não chega a ser enjoativa, mas poderia ser um pouco mais elaborada. Um dos problemas é o som ambiente, em diversos momentos tive que diminuir o volume do jogo pela quantidade de barulhos sendo feitos ao mesmo tempo.

É possível alterar o visual do seu personagem

Em alguns momentos a sua tela se torna uma baderna, já que a combinação de itens a serem recolhidos e o exagero de árvores e pedras no caminho não é algo visualmente agradável. O jogo também não possui um dos maiores facilitadores em cenários com visão isométrica: a possibilidade de enxergar o jogador atrás de árvores, como acontece em Stardew Valley.

São poucos os problemas de desempenho em Forager, um dos mais bizarros e perceptível acontece em uma dungeon de gelo. Nos primeiros passos nessa caverna não é possível detectar nenhuma anomalia, mas é só avançar um pouco para o FPS cair bruscamente. Claramente, a quantidade de elementos interagindo na tela ao mesmo tempo é o motivo dessa queda de performance, mas uma atualização deve resolver isso.

Veredito

Forager é bem direcionado para um público específico que quer jogos para relaxar, para ouvir podcasts ou para passar um tempo. Mas se você procura um desafio, talvez você também encontre em Forager.

Por mais banais que sejam, suas escolhas têm consequências, como mais algumas horinhas de gameplay repetitivas ou a perda de algumas moedas. Porém, você sente mesmo o peso de uma decisão errada quando vê o seu planejamento ir por água abaixo.

Por outro lado, o jogo te oferece recompensas a todo momento, como moedas e novos itens. Também traz aquela sensação de satisfação e dever cumprido quando todas as suas evoluções funcionam em conjunto.

É complicado indicar Forager para quem não se identifica com essas características em um jogo, principalmente pela bagatela de U$ 20 na eShop americana (cerca de R$ 80). O título ainda não está disponível na loja BR. Já aqueles que se sentiram representados nesse review, podem entrar de cabeça nesse universo que oferece mais de 20h de jogatina, além da possibilidade de um replay infinito.

E o mais importante disso tudo: não mate os rabanetes!


Trailer do Jogo

 

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Jonatas Marques

De RPG japonês até Candy Crush genérico, se me prende a atenção, estou jogando! Essa paixão transcendeu para a internet, onde escrevo sobre games na NL e no Medium.

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