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[REVIEW] Nexomon – Inspiração acima da média

Sempre fui um fã dos jogos da franquia Pokémon, e acompanhei bem de perto o aparente descaso que a série foi recebendo com o passar do tempo. Os últimos lançamentos não têm sido assim tão revolucionários como os títulos mais antigos costumavam ser, muito menos se formos buscar comparações entre os Pokémon atuais e aqueles lançados para Nintendo DS ou GameBoy Advance. Com essa decepção crescente dentro de mim por causa da fórmula batida que nem tenta mais se reinventar tanto, costumo ficar de olho em experiências similares no cenário indie, dentro de uma categoria que as pessoas costumam chamar de Poké Clones. Nexomon é claramente um produto inspirado na franquia da Nintendo/Game Freak, mas será que é justo apenas encará-lo como algo do tipo?


Ficha Técnica

Título: Nexomon

Plataforma: Nintendo Switch

Data de lançamento: 17/09/2021

Tamanho: 408 MB

Desenvolvedora:VEWO Interactive

Publicadora: PQube

Jogadores: 1

Em Português: Não

Gênero: RPG, Aventura

Tempo de Jogo (em média): 15 horas

Save na Nuvem: Sim

Classificação: Livre

Preço no Lançamento (BR): R$ 50,95

Preço no Lançamento (EUA): US$ 9,99


Planos maléficos estão por vir

Nexomon iniciais

Pode parecer estranho, mas Nexomon é o primeiro jogo da série Nexomon, e chegou ao console depois de seu sucessor no ano passado: Nexomon Extinction. Felizmente, segui o conselho de algumas pessoas próximas a mim que me disseram para jogar ambos na devida sequência, coisa que acabei fazendo por vários motivos. Nunca tendo tido contato com Nexomon Extinction, posso dizer que provavelmente minha experiência foi de alguém com olhares frescos sobre o indie que se inspira na aventura da Nintendo, o que evitou julgamentos pesados e comparações injustas com sua sequência.

Nexomon foi originalmente lançado para dispositivos mobile em 2017, contando com várias microtransações para manter os desenvolvedores com suas contas em dia, visto que ele possui um formato free-to-start nos smartphones (jogue o início, então pague para ter o produto completo). Com isso, muitas pessoas conheceram apenas um breve pedaço do começo de sua experiência, já que existe a barreira da compra e a maioria sequer lê que o valor dá direito ao produto completo. Fugindo desse modelo de negócio ao ingressar nos consoles “sérios”, digamos assim, Nexomon chega sem qualquer tipo de compra interna, oferecendo tudo o que possui em um só download.

Cutscenes

Como já era de se esperar, Nexomon apresenta monstrinhos domesticáveis que podem ser utilizados em batalhas, e a história se inicia nos colocando na pele de um protagonista personalizável, mas com mudanças existentes apenas no quesito “avatar visual”. Por mais que você escolha um garoto ou uma garota (ou outro avatar qualquer), isso não surtirá qualquer efeito na história principal. Também é possível colocar um Nexomon te seguindo o tempo todo no mapa, mas sem ligação nenhuma com algum que tenhamos de verdade em nossa equipe – apenas figuras pré-definidas.

O enredo aqui gira em torno de Nexolord, o treinador de Nexomon mais famoso e poderoso da face do planeta. Esse figurão, por algum motivo, está em sua casa conversando com seus pais, e isso não cheira nada bem. Porém, sua mãe impede com que você vá e ouça a conversa de Nexolord com seu pai no laboratório subterrâneo existente em sua residência, te mandando imediatamente ir brincar com sua amiga Ellie nos arredores da casa. Tendo sido “chutado” do local, falamos com Ellie e seu robozinho ajudante, Atlas, na área externa, até que damos de cara com um capanga que nos desafia para uma batalha após ter sua maleta cheia de Nexomon roubados tomada por nós. E assim se inicia a aventura, exigindo a escolha do seu Nexomon inicial e seu respectivo elemento, dentre as várias opções oferecidas aqui – bem mais do que as três existentes na franquia Pokémon.

Apesar de várias semelhanças com a série da Nintendo, Nexomon consegue trazer uma trama um tanto quanto interessante, em vez de nos colocar na pele de um personagem que almeja ser o vencedor da liga ou qualquer coisa batida do gênero. Nossa principal missão é descobrir o que Nexolord está planejando, além de ir atrás de “líderes” de ginásios nas cidades vizinhas (que sabem o que está rolando), fora que teremos os Campeões do Nexolord em nossa cola.

O combate com sistema papel-pedra-tesoura

Batalhas

Assim como jogos do gênero, Nexomon traz o clássico combate com desvantagens e vantagens de elementos uns sobre os outros. Remetendo, novamente, a Pokémon (difícil não fazer a ligação nesse texto), os monstrinhos possuem elementos próprios, com golpes que terão algum sentido com o qual eles pertencem. Por exemplo, um Nexomon do tipo pedra possuirá ataques de pedra, o monstrinho elétrico será dotado de ataques de raio, e assim por diante. Mesmo assim, nem sempre tudo faz 100% de sentido, sendo que logo no início consegui um Nexomon de pedra com ataques aquáticos, por exemplo.

Infelizmente, não existe nenhuma enciclopédia dizendo quais elementos possuem vantagens e desvantagens sobre o quê, tornando o aprendizado por aqui um tanto quanto dificultoso. E nem adianta tentar se basear na franquia da Nintendo para saber o quê surtirá efeito em quê, já que ataques de planta possuem eficácia alta contra tipos elétricos, golpes aéreos não geram altas quantidades de dano no tipo folha e por aí vai. Não consegui encontrar um raciocínio lógico que me fizesse entender 100% de como funciona o sistema de vantagens de Nexomon, por isso fica aí a crítica e a confusão que tive ao longo da jornada.

 

Como de costume, as ações acontecem em turnos 1 contra 1, alternando entre nosso monstrinho em batalha e o inimigo que fica no lado direito superior da tela. Caso estejamos enfrentando um treinador, a parte extremamente ruim é que não é permitido trocar nosso Nexomon para utilizar contra o inimigo na sequência. E, pra piorar, recebemos um golpe logo que o treinador lança seu Nexomon sem qualquer chance de reação de nossa parte. Isso quebra bastante a estratégia, inutilizando muitos itens úteis, como o Revive, nos obrigando a usar nosso Nexomon como “saco de pancadas” para realizar o próximo passo.

E não podiam faltar as capturas para que novos integrantes componham nossa equipe. No lugar das Pokeballs, temos em nossas mãos as Nexotraps, que possuem exatamente o mesmo propósito. Uma vez que enfraquecemos um Nexomon selvagem, podemos lançar um desses itens e cruzar os dedos para que o bichano seja capturado sem dificuldades.

As batalhas se iniciam ao entrarmos em contato com moitas que estão chacoalhando, o que permite uma decisão maior de entrar em combate ou não. Mas não posso dizer o mesmo em relação às cavernas, que contam com batalhas aleatórias sem qualquer tipo de repelente para bloquear os confrontos por alguns minutos.

Exploração

A forma como a pontuação de experiência é distribuída acaba sendo confusa, no início. Demorei para entender que, por algum motivo, os pontos são distribuídos entre toda a equipe depois de uma vitória, o que me deixa em cima do muro ao bater o martelo e dizer se isso é bom ou ruim, já que talvez eu poderia estar recebendo mais experiência se apenas o Nexomon em ação recebesse a recompensa. Os pontos também não são dados logo que derrotamos um inimigo, mas sim no final da batalha que a contagem é feita. Isso me deixou bastante perdido, já que pensei, depois de várias batalhas, que precisava manter o Nexomon vivo até o fim da partida para que ele realmente recebesse a experiência merecida.

No mais, existem as famigeradas evoluções depois de um monstrinho atingir um nível específico, além de 4 golpes que podem ser equipados por vez. A parte mais interessante é que, sempre que um Nexomon aprende novos golpes, os antigos podem simplesmente ser desequipados em vez de eliminados para sempre – ao contrário da concorrência. Isso traz maior liberdade, sem grandes consequências ao jogador.

O que me desagradou

Viagem rápida

Como é possível perceber, Nexomon é bastante confuso em vários aspectos, principalmente se tratando das batalhas. Muitas vezes existem efeitos que ficam localizados abaixo do nome do Nexomon caso ele use algum golpe que o dê vantagem em questão de atributos, o que é simbolizado por um ícone que representa sabe-se lá o quê. E o problema é justamente esse: o ícone não fala por si só, deixando sua interpretação completamente livre e dúbia.

A exploração do mapa, que costuma ser divertida, é muito machucada pela sua divisão de áreas por uma transição de tela com um tempo de loading. Um exemplo que ilustra bem isso é The Legend of Zelda: A Link to the Past, em que os ambientes possuem cenários divididos pelo fim da tela. O resultado é algo com bastante quebra de ritmo e carregamentos incessantes, o que tornou a experiência bem maçante pra mim. Isso se agrava com a falta do mapa, já que não fazia ideia o tempo todo por qual caminho eu tinha ido e como fazia para voltar. Felizmente, existem os Totens de viagem rápida pelo jogo para mitigar um pouco dessa frustração, mas não há nada como saber exatamente onde você se encontra.

Gráficos remetem aos tempos de Adobe Flash

A interface não é algo tão belo de se ver, e parece ter sido criada por alguém que não entende tanto de design gráfico (esse primeiro sendo mais subjetivo, eu sei) e muito menos de experiência de usuário. Alguns menus não permitem voltar ao início depois de chegar ao final de uma lista, exigindo com que o cursor seja levado até o primeiro item manualmente. Também existe um som para toda e qualquer navegação entre as listas, tornando o processo bem irritante. É verdade que há como desativar os efeitos sonoros, mas isso tira os sons do jogo de maneira geral. Não há legendas também para qual botão pressionar para executar algumas ações, o que nos joga em uma confusão danada sobre o que acontecerá se apertarmos um comando específico – erros bem amadores de UI.

Por fim, apesar das batalhas serem bastante ágeis e, curiosamente, a animação para entrar e sair delas seja incrivelmente veloz, não há uma forma de acelerar os turnos e nem de desligarmos as animações dos golpes. No começo, tudo é bem bacana de se assistir e até mesmo impressionante no quesito gráfico, considerando que Nexomon é um jogo indie e consegue fazer bonito em vários sentidos. Porém, depois de várias batalhas, eu só queria subir de nível e avançar na história para saber seu desfecho, sem ter que passar por momentos de repetição sendo obrigado a assistir as mesmas animações constantemente.

Uma jornada acima da média, mas com problemas

Nexomon tem poucos defeitos, e digo isso com muita sinceridade. Se você está esperando encontrar algo que vá bater de frente com a franquia Pokémon, recomendo que perca essa mentalidade antes de dar uma chance à série Nexomon. O indie comete vários acertos que o tornam até mesmo superior aos jogos da Game Freak, porém, os elementos em que ele tropeça também prejudicam bastante a experiência.

Seus gráficos são muito bonitos, mas podiam ter sido melhor trabalhados, já que os visuais dos monstrinhos e personagens são infinitamente superiores aos cenários pixelados e com baixa resolução que encontramos em todo o jogo. Os Nexomon são bem criativos e, apesar de nem todos possuírem um design incrível e bem bolado (são mais de 300 bichos), a maioria dos monstrinhos têm nomes, animações e aparência bem satisfatória e única.

As batalhas também são bem ágeis, mas carecem de mais opções de personalização e, principalmente, uma enciclopédia para nos possibilitar entender como funciona o sistema de vantagens e desvantagens dos elementos dos Nexomon. É tudo muito confuso, além de que nada segue um raciocínio lógico, o que me obrigou a aprender na base da famosa “tentativa e erro”.

Em suma, Nexomon é um produto gratificante para aqueles cansados da velha fórmula batida da Game Freak, e que estão à procura de algo que se inspira na famosa série de monstrinhos de bolso sem fugir tanto da proposta central. Diria que a história aqui é superior ao que encontramos na concorrência, além de que a narrativa é trazida de forma bem mais interessante do que vimos ao longo dos anos. Porém, problemas de game design na exploração e confusão desnecessária tornam o game da VEWO Interactive algo que exige um pouco de paciência para ser apreciado como merece. E, sim, agora quero jogar Nexomon Extinction.


Trailer do Jogo


* Este review foi feito utilizando uma chave fornecida pela PQube

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Jason Ming Hong

Gamer desde o 1 ano de idade segundo meus pais. Jogo de tudo, porque o importante pra mim em um jogo é divertir. Gosto de jogos com uma boa história, investimento em gameplay sólido e, se rolar, um co-op de sofá. Também sou UX/UI designer, aquela galera moderninha que faz coisas pensando em quem vai usar. Aliás, agora edito o POWdcast, RÁ!

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