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[REVIEW] Animal Crossing: New Horizons – A ilha deserta mais aconchegante que você vai encontrar

Alguns podem até discordar, mas a mistura de videogames com a vida real é algo que cresce a cada dia. Seja pelos sentidos que usamos além de uma experiência passiva, seja pela imersão ao interpretarmos o papel de protagonista em uma história ou seja até pelo paradoxo de usarmos os games como uma válvula de escape do mundo real.

A mídia, por si só, já possui características para levar o jogador a essa experiência, mas alguns jogos nos aproximam ainda mais desse mundo fantasioso. E eu não falo de gráficos de última geração ou da tecnologia do VR, mas sim de mecânicas, escolhas de design e uma direção artística que nos transportam para o imaginário do que seria uma realidade ideal. O último jogo que faz isso com louvor é Animal Crossing: New Horizons e você deveria experimentá-lo.


Ficha Técnica

Título: Animal Crossing: New Horizons

Plataforma: Nintendo Switch

Tamanho: 6.5 GB

Desenvolvedora/Publicadora: Nintendo

Jogadores: Até 8 jogadores

Em Português: Não

Gênero: Simulação

Save na Nuvem: Não

Classificação: Livre

Preço de Lançamento (Loja Americana): US$ 59.99

Preço de Lançamento (Loja BR): R$ 250,79


Como o jogo funciona

Para aqueles que não conhecem, Animal Crossing é uma franquia da Big N que possui um público um tanto nichado. O primeiro jogo saiu para Nintendo 64 e com o nome de “Animal Forest”. O sucesso veio mesmo nos portáteis: Wild World, do DS, e New Leaf, do 3DS, ultrapassaram, cada, 10 milhões de cópias vendidas; enquanto o jogo de Wii, mesmo com a popularidade do console, não chegou nem aos 5 milhões em vendas.

Por isso um novo título da franquia parecia perfeito para o Nintendo Switch, principalmente pelos 7 anos do último jogo principal. Nesse meio tempo, tivemos os spin-off’s Pocket Camp para celular e o Amiibo Festival, que saiu no Wii U. 

Antes de jogar qualquer Animal Crossing é preciso considerar duas características importantes. A primeira é o seu gênero de simulação com um pouco de RPG, em que você tem o controle sobre sua cidade/ilha/vilarejo e aprimora a sua vida e o seu local aos poucos. Algo parecido com Harvest Moon e Stardew Valley.

Outra característica para ficar atento em Animal Crossing é que o jogo funciona conforme o nosso horário real, ou seja, se você jogar em um Domingo às 14h, o jogo se passará na mesma data e hora.

Isso pode afastar algumas pessoas, pois é preciso aguardar alguns dias para missões ou upgrades serem concluídos e algumas lojas só funcionam em determinados horários.

Porém, esse é um fator que também aproxima aquele público que se identifica com uma simulação mais “real” em jogos. As diferenças entre o dia e a noite, as estações do ano, eventos e até missões que só podem ser feitas em alguns dias semana, tudo isso agrega ao gameplay de Animal Crossing.

A evolução em New Horizons

Bom, se o gênero de simulação e o gameplay em tempo real não te fizeram desistir do jogo, agora é o momento de aproveitar todo o universo de Animal Crossing: New Horizons.

O título para Switch trouxe muitas melhorias quando comparamos com o New Leaf, último jogo principal da franquia. Além da natural evolução em gráficos e sons, New Horizons possui uma “qualidade de vida no gameplay” que não havia no 3DS.

É muito mais fácil plantar e reposicionar as árvores; quase tudo pode ser construído através da nova mecânica do DIY (faça você mesmo); os Nook Miles proporcionam pequenas missões e mini conquistas que podem ser trocadas por itens; o multiplayer está mais completo e funciona melhor, tanto ao jogar online com amigos quanto com a novidade de pousar em locais aleatórios.

Falando em multiplayer, aqui a Nintendo cometeu um pequeno deslize: a regra de uma ilha por console segue em New Horizons. O perfil que cria um novo jogo se torna o principal, enquanto os outros usuários daquele mesmo Switch poderão desfrutar apenas de algumas funções nessa ilha. Isso pode servir para algumas pessoas, mas é uma pena a Nintendo não oferecer a opção de cada perfil ter a sua própria ilha separada no mesmo console.

Como na maioria dos jogos, a falta da tradução em português pode ser um problema para os novatos em Animal Crossing. Não há textos enormes para serem lidos e o inglês no jogo não é difícil de entender, porém aqueles que não possuem nenhuma familiaridade com a língua, como crianças, podem se sentir perdidos em algumas missões principais.

Outras novidades menores, mas não menos importantes: mais espécies de peixes e insetos, mais villagers e mais opções para alterar o layout da ilha, inclusive com a nova mecânica de construtor. 

Entre erros e acertos, fica muito claro que a Nintendo justificou bem os 7 anos de desenvolvimento de New Horizons.

Liberdade e equilíbrio para criar o seu mundo

Apesar das inúmeras atividades e caminhos que o jogo oferece, a quantidade não é o forte em Animal Crossing: New Horizons, mas sim como tudo isso é muito bem amarrado. 

Há muitas coisas para fazer no jogo, mas nada é à toa ou colocado de forma esporádica. Listando os seus principais elementos, podemos ter uma pequena ideia disso:

  • Missões Principais: construir a casa, o museu e a prefeitura são algumas das prioridades do jogo, pois é a partir daí que surgem outras missões, itens e upgrades. Com o passar do tempo, Tom Nook vai te passando algumas outras atividades para melhorar a sua ilha, como a construção de lojas;
  • Atividades diárias: pelo fato de funcionar em tempo real, é importante entrar no jogo todos os dias. Assim, é possível colher materiais, conversar com as pessoas da ilha e avançar um pouco a cada dia. Em Animal Crossing: New Horizons, essas atividades diárias não passam de 20 minutos de jogatina;
  • Economia: quase tudo no jogo custam bells (o dinheiro em Animal Crossing), que é possível conseguir vendendo frutas ou nabos, por exemplo. A própria venda desses itens possuem seus próprios sistemas. Plantar árvores que deem frutos, ter todas as opções de frutas em sua ilha e saber o momento certo de vender nabos são fatores essenciais para obter lucro no jogo;
  • Decoração e construções: além da grana, é legal deixar a sua ilha sempre bonita e com a sua cara. Por isso há diversos tipos de flores e construções. E de novo: cada um possui suas próprias mecânicas. As flores, por exemplo, podem ser combinadas na plantação com o objetivo de nascer uma flor híbrida;
  • Colecionáveis: lembra do museu na missão principal? Então, os colecionáveis servem para ficarem expostos no museu. Peixes, insetos e fósseis podem ser encontrados pela ilha. Caso venha alguma espécie repetida, você pode vender ou trocar os fósseis com seus amigos. Além de catalogar todos os bichos, é uma ótima forma de ganhar dinheiro ou conseguir fósseis diferentes;
  • Eventos: outra maneira de conseguir itens inéditos é através dos eventos e das diferentes estações do ano. Durante a primavera, por exemplo, você consegue as folhas que caem das árvores. Feriados como a Páscoa também trazem itens que só podem ser adquiridos por tempo limitado;
  • Relação com villagers: além dos NPCs e do seu personagem principal, os villagers são importantes em Animal Crossing. Eles são os seus vizinhos, então conversar e ajudá-los pode te render alguns benefícios. Mas como nem toda vizinhança é perfeita, também é possível expulsar algum villager da sua ilha e trazer vizinhos novos.

Mesmo citando, de forma bem sucinta, apenas alguns sistemas de Animal Crossing, podemos perceber como eles se conversam, mas também podem ser aproveitados separadamente.

Você não é obrigado a seguir todos esses elementos e nem se aprofundar em um só. Em Animal Crossing: New Horizons o jogador está livre para avançar conforme o seu ritmo e gosto. Assim, cada um terá a sua recompensa baseado em seu estilo de jogatina.

Aqueles que não possuem muito tempo podem focar nas missões principais e na rotina diária; os jogadores que pretendem avançar rapidamente poderão aproveitar atividades menores, mas que juntas podem proporcionar um avanço considerável.

São diversas opções de atividades, itens e controle da ilha, mas o importante é o objetivo final daquela atividade, que gera um outro objetivo, e assim por diante. Essa precisão no level design e no desenvolvimento do jogo só pode ser feito por empresas que possuem o cuidado que a Nintendo tem com as suas franquias, e Animal Crossing representa muito bem essa característica da empresa.

Animal Crossing e a realidade

Por pura coincidência, Animal Crossing: New Horizons foi lançado em meio a uma pandemia global, que exigiu que as pessoas praticassem o distanciamento social. Nesses momentos de incerteza sobre o futuro e a falta de contato humano, o game pode ser muito mais do que só uma distração.

O multiplayer online é muito importante nesse contexto. O jogo serviu como ponto de encontro para os eventos que normalmente acontecem pessoalmente, como aniversários, casamentos e até brincadeiras inventadas pelos jogadores. Sem contar todos os memes de Animal Crossing que invadiram a internet.

Por não ser competitivo, o que nos motiva a jogar online é a colaboração com outros jogadores. Ajudar no avanço dos amigos, trocar itens que não aparecem em sua ilha, vender frutas em outras ilhas para conseguir mais dinheiro, etc. São diversas interações que mostram como o avanço comunitário também é importante no jogo.

Porém, o mais impressionante em Animal Crossing não está ligado a uma função específica do jogo. Videogames no geral podem servir de terapia para o mais variado tipo de pessoas: é possível se desestressar dando uns tirinhos virtuais, aprender através da repetição em batalhas extremamente difíceis ou superar desafios que exigem foco e concentração. 

Animal Crossing não requer habilidades motoras, não possui uma história ou desafios complexos para serem concluídos e o jogador não é punido se apenas largar o controle e ficar admirando borboletas. Então como é possível se sentir melhor com um jogo desse? 

Um post no Reedit, de 2017, quando nem havia o anúncio de Animal Crossing: New Horizons, reúne diversos depoimentos de pessoas que encontraram refúgio em jogos da franquia. Entre os relatos, o que mais se destaca é exatamente o fator de Animal Crossing não exigir “nada” do jogador. Além de ser um jogo muito convidativo e harmonioso.

Destaco ainda que os pequenos avanços no jogo podem ajudar pessoas que passam por momentos em que não conseguem fazer nada em seu mundo real. Conto a minha experiência pessoal sobre isso no Nintendo POWdcast #100 (a partir do minuto 17:42).

Lembre-se: caso esteja passando por problemas de saúde mental e psicológica, procure ajuda profissional. Os videogames e qualquer outro tipo de entretenimento podem ajudar, mas não são a cura definitiva.

Veredito

Pode parecer clichê, mas podemos dizer com muita tranquilidade que Animal Crossing é muito mais uma experiência do que um jogo nos moldes que estamos acostumados. 

Claro que ele não é perfeito, por isso é preciso se atentar ao seu gênero, ao funcionamento em tempo real, à dinâmica de quebra e construção de ferramentas e à limitação de uma ilha por console. Caso algum desses elementos não te atrapalhe ao ponto de abandonar um jogo, Animal Crossing: New Horizons te proporcionará muitas horas de diversão.

Além disso, esse é um excelente jogo para você relaxar e esquecer, pelo menos por alguns momentos, os problemas do mundo real.

Mesmo no valor de um AAA (e que deve demorar para receber uma promoção), Animal Crossing: New Horizons é uma justificativa e tanto para o maior lançamento da Nintendo no semestre.

Então, junte suas coisas, não esquece aquele jogo que você levaria para uma ilha deserta e venha desfrutar desse mundo ideal criado pela Nintendo.


Trailer do Jogo


*Esta análise foi feita com uma cópia disponibilizada pela produtora.

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Jonatas Marques

De RPG japonês até Candy Crush genérico, se me prende a atenção, estou jogando! Essa paixão transcendeu para a internet, onde escrevo sobre games na NL e no Medium.

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