[REVIEW] Creature in the Well – Rebatendo bolinhas nas Profundezas
Geralmente, quando um jogo é analisado, o foco está em sua parte técnica, história, arte, e toda a conjunção audiovisual que o forma. Mas, raramente, alguma coisa do jogo pode marcar a vida, o momento em que se está vivendo. Dessa vez, para mim, Creature in the Well trouxe uma experiência que reflete uma grande decisão que tomei, e isso pouco tem a ver com o jogo, mas tudo a ver com alguns fatos que falarei aqui.
Jogar Pinball por horas a fio se torna meio enjoativo. Alguns Adventures também são enjoativos. Dungeon Crawlers podem ser maçantes e cansativos. E se juntarmos esses três elementos em um jogo só, mas com muitas bolinhas ao mesmo tempo? Conheçam Creature in the Well.
Ficha Técnica
Título: Creature in the Well
Plataforma: Nintendo Switch
Tamanho: 1.1 GB
Desenvolvedora/Publicadora: Flight School Studio
Jogadores: 1
Em Português: Sim
Gênero: Ação, Arcade, Aventura, Puzzle
Save na Nuvem: Sim
Classificação: Livre
História
Creature in the Well, em um primeiro momento, pareceu um jogo com um foco muito maior na jogabilidade do que na história. Seu anúncio no começo desse ano por meio de uma das Indies Highlights e posteriores vídeos mostravam cada vez mais que seu forte estava na jogabilidade. Mas, jogando, percebi que não.
Uma misteriosa montanha abrigava um projeto que iria restaurar o clima ao seu redor. Trabalhavam lá algumas pessoas e cem engenheiros robóticos. Um certo dia, os robôs sumiram ou pararam de funcionar misteriosamente, após a criatura da montanha começar a aparecer.
O projeto foi abandonado mas, centenas de anos depois, surgiu um engenheiro robô que começa a investigar e a restaurar a energia da montanha. Então cabe ao jogador, controlando esse robô, descobrir o que aconteceu.
O jogo começa sem dar nenhuma informação maior, somente com as conversas e leitura de alguns documentos que é possível descobrir o mistério. Creature in the Well consegue construir tão bem esse mistério que cada nova interação é somada à história, gerando curiosidade, respondendo perguntas e criando novas dúvidas.
Além disso, a tradução para o português-brasileiro foi tão bem feita que faz com que o jogador tenha mais vontade ainda de explorar cada canto do lugar. Não são raros os momentos em que vemos palavras e expressões super brasileiras e totalmente dentro do contexto.
Jogabilidade
Por mais que Pinball não seja um jogo que me agrade, Creature in the Well mostrou que é possível se divertir rebatendo bolinhas. Pode parecer estranho, mas a mecânica se encaixa muito bem na história e essa era uma das minhas maiores preocupações, pois é comum encontrar jogos com mecânicas que não se encaixam no contexto.
Os engenheiros robôs eram os responsáveis por energizar determinados elementos. Cada um deles possui um núcleo capaz de transferir energia para a bateria, que posteriormente passa essa energia para os obstáculos. A bateria são as bolinhas e os elementos que precisam de energia são os obstáculos. Quando você rebate uma determinada quantidade de energia no obstáculo, ele é armazenado e vai fechando o circuito elétrico até abrir uma porta ou surgir algo que irá dar mais energia para o robô.
A energia do núcleo transferida para as baterias, depois de rebatida, é transformada em Energia de Templo e pode ser utilizada para abrir uma porta sem que seja necessário superar os desafios da tela. Assim, quando você estiver em uma tela muito difícil – e com certeza irá encontrar telas realmente difíceis, mas nunca impossíveis – poderá ir direto para a porta e abri-la com a Energia de Templo armazenada.
Creature in the Well usa e abusa de quebra-cabeças que exigem precisão e bons reflexos. A dificuldade é muito bem balanceada, principalmente pelo fato de ser possível pular algumas telas por um preço relativamente baixo. Mas atenção, caso você seja persistente e consiga passar um desafio, pode ser recompensado com um upgrade ou armas melhores.
Por falar em armas, o engenheiro está munido de uma Ferramenta de Ataque, utilizada para rebater as bolinhas; e uma Ferramenta Energizadora, que transfere a energia do núcleo para a bolinha. É interessante que cada Ferramenta possui uma propriedade diferente, sendo crucial para passar determinadas partes do jogo.
Então, você atrai as baterias ao seu redor com a Ferramenta Energizadora, energiza-a enquanto mira e depois rebate para o obstáculo, que seguirá as Leis da Mecânica Universal da Física para seguir sua trajetória – ou às vezes não. O jogo ainda facilita um pouco a mira, e o hit box de alguns obstáculos é maior, a fim de não tornar o jogo em um desafio de mira perfeita.
E, bom, até agora parece ser um jogo de bater e rebater bolinhas, mas definitivamente não é. Haverá momentos em que terão muitas e muitas bolinhas na tela, cada uma seguindo uma trajetória, acionando obstáculos que dão dano ou que as rebatem com Energia Anômala, que também causa dano, ou indo em direção a obstáculos que atrasaram o processo. Nesses momentos que o jogador irá utilizar o máximo de seus reflexos, pois o robô é capaz de dar um dash para esquivar.
O boss, a criatura do fosso (tradução do nome do jogo), é o verdadeiro inimigo e está nele o maior mistério da história.
No geral, a jogabilidade agrada muito por ser inovadora e mesclar muito bem gêneros distintos, tornando divertido o fato de rebater tantas e tantas bolinhas. Há momentos frenéticos em que o dash se faz muito útil para recuperar as bolinhas arremessadas e energizá-las novamente. E, como já dito anteriormente, tudo isso sem perder sentido e conexão com a história.
Direção de Arte
Visual
Ao iniciar pela primeira vez, Creature in the Well já impressiona com um show audiovisual. As cores sólidas utilizadas, em um primeiro momento, estranham, mas depois se juntam e parecem um quadro interativo. A variação das cores, no geral, não são nada sutis e é isso que agrada. Entretanto, falar que um desenho foi feito no computador utilizando somente cores sólidas pode causar uma má impressão, como se tivesse somente utilizando a ferramenta do Balde de Tinta no Paint. Mas isso é feito de uma forma tão única e bela que se torna, de fato, como um quadro pintado.
Assim, abusando de tons amarelados, a sensação de melancolia e pouca vida se torna maior por causa do uso de cores sólidas. E não somente o uso, mas também a ausência das cores é somado a isso. Os ambientes escuros enchem os olhos.
Apesar disso, existem alguns locais mais genéricos e parecidos com outros. O que não diminui o aspecto visual do jogo, mas ajuda a aumentar os sentimentos causados quando se está em um lugar totalmente diferente.
Áudio
As cores sólidas, em tons amarelados ou não, e outras decisões de design jamais passariam a sensação que passam se não fosse por causa do ótimo uso da trilha sonora.
No geral, o jogo usa muito mais do silêncio para fazer seus sons, sabendo colocar música na hora certa. Bem como o The Legend of Zelda: Breath of the Wild faz, para entender melhor. O silêncio, talvez, é a melhor ferramenta da música, mostrando a importância que o ócio auditivo possui. Melancolia, mistério e tristeza são sensações que são aumentadas quando se utiliza bem o silêncio.
Mas isso não é tudo. Existem momentos em que é necessário ter uma música e quebrar a barreira da tensão. Mas Creature in the Well não é marcante em sua trilha sonora, o jogo é realmente marcante em sua utilização, mas as músicas em si, são somente ordinárias. O que, como sempre falo, não é um problema!
Veredito
Creature in the Well pode parecer estranho e confuso, mas é um jogo com jogabilidade única que pode agradar os mais variados jogadores. Obviamente possui alguns pequenos probleminhas que podem ser resolvidos em atualizações posteriores, mas nada que influencie na jogabilidade.
Recomendo para quem quer algo diferente, para quem gosta de Pinball ou Adventures em geral e para quem gosta de uma boa história! Creature in the Well é a prova de que um jogo pode ser muito mais do que os trailers mostram.
E aí, jogou ele também? Ficou a fim de jogar? Conte para nós aqui nos comentários!
Trailer do Jogo
Este review foi feito utilizando uma cópia enviada pelos produtores.
A parte abaixo foi uma experiência bem única que vivi com Creature in the Well. Não envolve diretamente o jogo em si, mas o momento atual da minha vida e algumas reflexões.
A importância de dar um passo para trás
Durante a exploração inicial do jogo, andando entre as casas em frente à montanha, conheci um NPC importante: Danielle, responsável pelos upgrades. E foi com ela a minha falha. Não sei por qual motivo, depois do fim do diálogo, eu simplesmente esqueci sua existência e prossegui o jogo.
Então avancei para as fases. A dificuldade foi crescendo, a cada novo mapa o desafio subia imensamente, indo além da linearidade comum entre os jogos. Os obstáculos estavam mais resistente, precisavam de mais batidas que o comum. E depois precisavam de mais batidas ainda.
Chegando na metade do jogo, avançar estava se tornando árduo e cansativo. Comecei a pensar que eu não tinha aprendido corretamente alguma mecânica, que o jogo era realmente difícil, que estava me faltando persistência ou que simplesmente não era para mim. Mas eu estava orgulhoso para voltar atrás e queria de qualquer jeito superar os desafios, principalmente para provar para mim mesmo que era capaz. Então persisti.
Em uma dificuldade extrema consegui avançar um pouco. Mas nesse momento o jogo já estava me causando tensão no corpo, dor de cabeça e outros sintomas psicossomáticos de quando se está com muita angústia. Eu, orgulhoso, ignorei isso e persisti. Minhas mãos tremiam, pensava que o jogo era assim e que eu simplesmente não estava dominando alguma mecânica. Até que não aguentei mais.
Conversei com um amigo que já havia finalizado o jogo, e ele me deu uma dica super importante: volte atrás. E fui.
Explorando novamente a cidade, lembrei de Danielle e fui conversar com ela. Nisso, descubro que eu não havia feito o upgrade do núcleo do meu robô. Fiz imediatamente e subi do nível 1 até o nível 6 de uma vez!
Alegre com a descoberta e curioso para as mudanças, fui para o mapa que não havia conseguido passar anteriormente. O caminho se tornou tão fácil, mais fácil que as primeiras fases do jogo.
Às vezes, na vida, estamos em momentos em que nada dá certo, por mais que nos esforcemos ao máximo. O esforço continua enquanto as coisas continuam dando errado. Nisso começam os sintomas de estresse e angústia. Dor no peito, aflição, respiração agitada, dor de cabeça, etc., são muitos e variáveis de pessoa para pessoa. Não vendo outras saídas diferentes da persistência, os sintomas são ignorados simplesmente na crença de que a culpa está em nós mesmos ou na forma que fazemos algo. E constantemente vem o pensamento de que somos capazes, de que é um problema que qualquer outra pessoa poderia superar, de que isso não é difícil e basta só mais algumas tentativas, ou de que não somos perdedores para voltar para trás. E aí que está. Voltar atrás não é coisa para perdedores.
Nesse meu momento no jogo, que pode parecer bobo comparado aos problemas da vida real, eu tive que voltar para trás para perceber o caminho pela frente. Estou justamente vivendo isso em minha vida, em um momento de voltar para trás. Creature in the Well, por mais que não seja essa a sua premissa, ensinou-me a importância de parar um pouco para respirar e retornar o caminho, e que isso é uma coisa boa e um passo importante para a vida continuar.
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