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[REVIEW] Spiritfarer – A Morte sob outro olhar

Desde a sua primeira aparição para o público, na conferência da Microsoft na E3 2019, Spiritfarer vem alimentando expectativas animadoras nos jogadores. Nesse meio tempo, o jogo promoveu algumas demos que fizeram jus a todo esse hype, e seu lançamento foi anunciado de surpresa em uma Indie World da Big N. Com todo esse peso para ser o “mais novo indie queridinho da galera”, será que o game da Thunder Lotus (Jotun e Sundered) entrega o que tanto prometeu? (a resposta é sim, confira no nosso review o porquê).


Ficha Técnica

Título: Spiritfarer

Plataforma: Nintendo Switch

Data de Lançamento: 18/08/2020

Tamanho: 4.7 GB

Desenvolvedora / Publicadora: Thunder Lotus Games

Jogadores: até 2 jogadores

Em Português: Não

Gênero: Aventura, Simulação

Tempo de Jogo (média): 30 horas

Save na Nuvem: Sim

Classificação: 13+

Preço no Lançamento (US): US$ 29.99


Uma reflexão sobre a morte

A primeira cena em Spiritfarer já explica bem o que vai ser o jogo: Charon, o antigo “espírito viajante”, está passando o bastão para a Stella, a personagem que controlamos durante o game. A função de um(a) Spiritfarer é ajudar as almas a realizarem os seus últimos pedidos para que elas, enfim, descansem em paz.

Falar sobre a morte pode parecer incômodo, mas é justo na maneira como Spiritfarer aborda um assunto ainda tabu que está a maior qualidade do jogo (e olha que há muitas qualidades aqui).

Desde a forma como funciona o mundo de Spiritfarer até cada diálogo e interação com os NPCs, é possível encontrar discussões e provocações sobre existência, passagem da vida para a morte, nossa função na terra, etc. Muitas vezes com uma abordagem mais otimista e engraçada, ao contrário do que costumamos pensar quando o assunto é morte. 

Porém, pode separar aquela caixinha de lencinho também, pois você vai precisar. Até porque, além dessa premissa principal, a personalidade única de cada espírito ajudado faz você se apegar a ele e ficar curioso quanto ao seu destino. Inclusive, a história da protagonista Stella e o seu gatinho Daffodil é um mistério a ser revelado no game.

Ao recrutar um espírito para o seu barco, ele se transforma na forma real dele e é a partir daí que você ganha mais uma companhia nessa viagem. Os espíritos também te auxiliam nas atividades da embarcação, sendo que um sabe cozinhar, o outro cuida das plantações, tem aquele que faz os reparos… me senti jogando um game bom de One Piece.

Cada espírito possui o seu próprio background e exigências. As quests podem ser realizadas na sequência que o jogador quiser. Ao terminar uma missão, outra pode ser desbloqueada e assim por diante. A leveza da história combina bem com a pouca exigência de habilidade no gameplay e com a liberdade do jogador em seguir essa jornada conforme o seu próprio tempo.

Infelizmente, a falta de tradução para o português (pelo menos na data de publicação do texto) pode ser um impeditivo para algumas pessoas, já que há interessantes reflexões nos diálogos. A Thunder Lotus já confirmou que está trabalhando na localização para o português brasileiro.

Sistemas bem combinados

Apesar da história ser o ponto forte de Spiritfarer, o jogo não é um Walking Simulator, pelo contrário, há muito “o que jogar” nele. 

O gameplay gira em torno das viagens no barco e da exploração nas ilhas. Há um mapa com lugares que você pode visitar, seja para cumprir missões principais ou apenas para coletar recursos. No tempo da viagem você pode realizar diferentes atividades no barco, como construir, cozinhar, pescar, cuidar das plantações e interagir com os seus tripulantes.

As viagens não demoram ao ponto de você se sentir entediado, muitas vezes não dá tempo de fazer tudo isso que foi citado, por isso que o jogo também conta com um sistema de “passagem de tempo” e quando os seus tripulantes estão dormindo não há como navegar. Então, você pode aproveitar esse momento para realizar as atividades pendentes no barco sem precisar se preocupar com os outros espíritos.

Além das quests principais, seus tripulantes também ficam de “mau humor” e com fome, então você precisa cuidar deles. Abraços e comidas melhoram o humor, mas nem sempre eles aceitam ser abraçados.

Há comidas melhores, médias e aquelas que cada tripulante rejeita. É preciso lembrar, pelo menos, as comidas favoritas de seus tripulantes na hora de cozinhar. O jogo poderia disponibilizar um diário com essas informações, mas não é nada que você precisa ter em mente o tempo todo.

O sistema de simulação em Spiritfarer é bem tranquilo, o jogo não te desafia a manter seus tripulantes com bom humor ou alimentados, ou que suas plantações estejam sempre bem cuidadas. Porém, a satisfação ao ver seu barco em harmonia te motiva a realizar essas atividades.

Spiritfarer também conta com diversos “mini-games”. Como cortar madeira, costurar fio de linho, tocar para as suas plantinhas, “capturar” raios e coletar recursos valiosos durante uma passagem com o barco.

O mini-game pode ser de QTE, controle de movimentação e até com desafios de plataforma. Esses eventos não acontecem de forma aleatória ou de surpresa, você pode viajar até eles ou criar materiais nas construções do seu barco.

Direção Artística e desempenho

O visual de Spiritfarer foi o grande chamariz do jogo. Um 2D estilizado de uma forma e com cores que te trazem paz só de assistir às cutscenes. Os detalhes nas expressões dos personagens, nas paisagens e nos materiais de criação também impressionam. 

No Switch é possível perceber uma pequena queda nos gráficos e FPS, mas nada que comprometa o game. Spiritfarer, aliás, tem a cara de um jogo portátil, então essa queda é compensada pela portabilidade.

A trilha sonora e o som ambiente não chamam tanta atenção, mas estão ali para completar toda essa direção artística magnífica.

Veredito

É difícil falar “joguem” ou “não joguem” Spiritfarer. Claro que se você não suporta jogos de simulação e está procurando um game que te desafie, esse jogo não vai te entregar isso. Sem contar que não há tradução para português, que ele está saindo por US$ 29.99 na eShop americana e que algumas partes do game poderiam ser menores.

A minha experiência em Spiritfarer foi gratificante e reveladora, mesmo cansando um pouco do looping de “viaje, colete recursos, cuide dos tripulantes, volte ao início”. A história e a vivência com aqueles personagens acabaram me prendendo, e a dificuldade branda e liberdade de Spiritfarer me fizeram esquecer um pouco desse looping repetitivo para me concentrar nas histórias dos tripulantes.

Spiritfarer me fez pensar sobre muitas coisas enquanto jogava o game: o quanto somos frágeis, o quanto o medo coloca desculpas para não irmos atrás daquilo que queremos e o quanto as regras desse mundo físico nos prendem naquilo que não somos.

Em meio a uma pandemia em que a morte vem sendo banalizada, me senti abraçado por Stella, Daffodil e os tantos espíritos que ajudei nessa jornada. Videogame é uma linguagem capaz de entregar esse tipo de experiência, mas poucos jogos são capazes disso e Spiritfarer, para mim, é um deles.


Trailer do Jogo


* Esta análise foi escrita usando uma chave fornecida pelos desenvolvedores.

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Jonatas Marques

De RPG japonês até Candy Crush genérico, se me prende a atenção, estou jogando! Essa paixão transcendeu para a internet, onde escrevo sobre games na NL e no Medium.

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