ArtigosGeralPlataformaReviewsSwitch

[REVIEW] Super Mario Bros. Wonder – Maravilhosamente Surpreendente

Super Mario Bros. Wonder veio para cobrir um hiatus de 11 anos sem um jogo 2D do bigode [não levando em consideração Super Mario Maker no Wii U e sua continuação no Switch]. Havia uma demanda para que a série se [re]reinventasse em duas dimensões, uma vez que a saturação da série New havia deixado um gosto amargo em seus momentos finais. E mais do que isso: havia um legado a ser cumprido. Afinal de contas, Mario é sempre muito divertido até em seus piores momentos. E o que a Nintendo fez foi trazer um jogo que estava realmente pronto para aparar todas essas arestas que foram criadas nesses últimos anos e nas últimas aventuras de nosso herói favorito.


Ficha Técnica

Título: Super Mario Bros. Wonder

Plataforma: Nintendo Switch

Data de lançamento: 20/10/2023

Tamanho: 3.5 GB

Desenvolvedora: Nintendo EPD

Publicadora: Nintendo

Jogadores: 1-4

Em Português: Sim

Gênero: Plataforma

Tempo de Jogo (em média): 9 horas

Save na Nuvem: Sim

Classificação: Livre

Preço no Lançamento (BR): R$ 299,00

Preço no Lançamento (EUA): US$ 59,99


O MELHOR MARIO 2D JÁ FEITO

Não é exagero, e também não é cedo demais para afirmar. É apenas a constatação de um trabalho minuciosamente bem feito que entende o personagem que está sendo representado e o homenageia da melhor forma possível. Durante alguns anos, muitos jogos do Mario homenagearam episódios anteriores da série, como New Super Mario Bros. U que tentou ser uma releitura moderna de Super Mario World; ou Super Mario Odyssey, que é uma carta de amor a tudo o que a série já havia feito até então. Mas Super Mario Bros. Wonder vai além de querer ser uma releitura como New U tentou ser, ele consegue ser o responsável dessa geração de todas as mudanças e quebras de paradigma que o próprio World foi no Super Nintendo, na época tendo que carregar nas costas o legado de 3 episódios numerados da série. Enquanto Wonder carrega o legado de 4 episódios New que pareciam nunca conseguir sair do lugar comum.

Mario Wonder é um jogo cheio de vida e personalidade, e isso é um reflexo de quase 40 anos da construção de um personagem que visitou diversos mundos, salvou dezenas de personagens de perigos inimagináveis, se transformou em centenas de coisas diferentes e aprendeu muitas técnicas variadas nesse processo. Agora, nosso herói chegou ao Reino Flor, e precisa ajudar o Rei Florian [uma adorável lagarta], a salvar seu povo de um Bowser que se fundiu ao castelo daquele reino, e está tentando dominar tudo através do… ritmo.

Pois é. Além de tudo, Super Mario Bros. Wonder também é uma espécie de jogo ritmico. Em que você não necessariamente precisa realizar as ações no ritmo para obter sucesso, mas ao fazê-lo, o jogo vai te recompensar com momentos inusitados e com certeza vai colocar um sorriso em seu rosto. Em algumas fases específicas o ritmo é sim crucial para o sucesso, então aumenta o som e embarca em uma das melhores trilhas sonoras já criadas para a franquia.

Não era pra menos com o retorno do icônico Koji Kondo, que foi responsável pelas maiores composições da série. E seu sua volta a Mario é um presente para o jogo e para todos os fãs que estavam esperando músicas novas e releituras de clássicos que fossem ficar presas em looping em nossas cabeças e conduzir a aventura de forma orgânica e, principalmente, divertida, ditando o tom de tudo o que está acontecendo ao redor do jogador.

FENOMENAL!

Mario Wonder navega pelo que é “ser Mario” com muita fluidez, trazendo elementos clássicos que nunca deixam de estar presentes e misturando-os com novidades fresquinhas para nosso herói, como a transformação de elefante, que acabou se tornando o carro chefe da divulgação do jogo. Um poder que vem de uma maçã em formato de cabeça de elefante e que transforma nossos heróis em adoráveis paquidermes, que além de muito fofos, são poderosos e necessários para liberar áreas específicas no jogo. E mesmo que sua utilidade possa não ser tão vital, é praticamente impossível não querer utilizá-la sempre que a oportunidade surge. Também temos o poder de broca, que não é necessariamente uma novidade, ele já existe em Super Mario Galaxy 2, mas com uma utilização mais limitada. E talvez o mais útil e completo, a transformação que permite soltar bolhas (também conhecido como Merio Broca aqui no Brasil), que além de capturar cerca de 90% dos inimigos do jogo, transformando-os em moedas, pode te ajudar a subir em lugares que em um primeiro momento parecem inalcançáveis, caso você seja bom de pulo e de timing.

Mas o maior atrativo do jogo, que também dá nome a essa aventura do bigode, é a Wonder Flower, a Flor Fenomenal. Uma flor misteriosa que concede poderes especiais não ao herói, mas à fase. Regras malucas são aplicadas em cada uma delas, sem repetição, deixando o jogador sempre à espera de “o que vai acontecer dessa vez?”. A criatividade dos desenvolvedores amplia o escopo do level design, mesmo ele sendo um dos mais robustos que a série Mario já teve. Tears of the Kingdom já mostrou que algo que parecia perfeito sempre pode melhorar, e Super Mario Bros. Wonder veio para confirmar.

E uma das melhores partes disso tudo é poder falar todos esses nomes em português como oficiais, referenciando o ótimo trabalho de localização da Nintendo Brasil no jogo. Um trabalho que ainda engatinha, levando em consideração o tamanho, o peso e o poder de uma empresa como a Nintendo, mas que aqui merece as glórias por finalmente entregar um material completo e minucioso, que não apenas traduz o que vem do idioma original, mas localiza completamente para o nosso, com referências, piadas e jargões da nossa língua, da nossa cultura popular.

E, claro, o grande destaque disso tudo está na carismática florzinha falante do jogo, se ela tem um nome foi algo que passou direto por mim, então chamaremos de Florzinha Tagarela. Um personagem que tinha tudo para ser insuportável, mas que é muito bem trabalhado, posicionado em lugares estratégicos para oferecer a dose certa de dicas e sarcasmo para que sua aventura ganhe um toque extra de vida. Na localização, ela fala tudo em português, e é aí que o jogo se transforma completamente em uma experiência que todo jogo da Nintendo deveria ser: acessível a todos os interessados que falam a língua daquele país onde a empresa atua oficialmente!

A Florzinha Tagarela esbanja charme chamando atenção para si nos lugares certos, nos momentos mais propícios. Tudo o que ela fala é pontual para um momento específico de sua aventura, nunca a mais, nunca a menos, tudo na medida, assim como é todo o restante do jogo. Existe um equilíbrio tão bem formado em todos os elementos que em alguns momentos chega a ser palpável a sensação de ver a história sendo feita diante dos seus olhos. Um dia Super Mario Bros. Wonder vai ser referenciado como um clássico dentro de sua própria franquia, dentro de seu próprio gênero, e poderemos dizer: Eu estava lá, eu acompanhei isso.

MAIS DO QUE UM JOGO, UMA AULA!

Existem alguns jogos de plataforma que deveriam ser caso de estudo. Mais do que isso, deveriam ser caso de ensino. Jogos que poderiam facilmente ser utilizados para ensinar pessoas como é um level desing bem desenvolvido. Entre os casos recentes é importantíssimo não esquecer de Donkey Kong Country Tropical Freeze e Yoshi’s Woolly World [lembra do Wii U?]. Super Mario Bros. Wonder entra para essa turma, mas com uma proposta um pouco diferente. Enquanto em Tropical Freeze e Woolly World existe uma progressão clara que cria uma curva de aprendizado perfeita para o jogador entender o gameplay e estar pronto para enfrentar desafios cada vez maiores, em Wonder essa curva parece mais uma montanha-russa. Isso porque as fases possuem sim uma progressão do mais fácil para o mais difícil, e existe uma coesão em como elas se complementam no aprendizado do gameplay. Mas elas não estão ordenadas dessa forma. Os desafios estão espalhados e variam muito em dificuldade, criando uma sensação de surpresa no jogador, se o que ele vai enfrentar naquela fase é algo apenas para andar para frente e conseguir tudo o que precisa, ou se será uma sequência absurda de pulos e desvios para simplesmente chegar até o final.

Dessa forma, o jogo nunca se torna cansativo e entediante, porque os desafios se apresentam de forma irregular, mas sem parecer um amontoado de fases boas de Super Mario Maker que você joga em ordem, e sim cumprindo seu objetivo que é o de construir um mundo coeso e totalmente integrado.

E por falar em construção de mundo, o Reino Florido é um dos lugares mais fascinantes que nosso herói já visitou. Consigo até imaginar Peach e Tiara viajando por aquele mundo. Criar uma ambientação rica e cheia de camadas com vida própria em 2D não é algo incomum, Yoshi’s Island e Super Mario World já estavam fazendo nos anos 90. Mas a impressão que se tem, e não é apenas uma impressão, é que Wonder eleva tudo o que já existe e melhora conceitos que já são fortes nos melhores jogos do Mario.

Os níveis de profundidade apresentados nos cenários não apenas conferem camadas ao mundo em que o jogo está ambientado, mas também dão vida e grandiosidade a ele. Cada detalhe é pontualmente posicionado em cada fase, para que o Reino Flor se transforme em um local de verdade, com consistência, vivo. E os desenvolvedores queriam que o jogador visse cada um desses lugares, prestasse atenção ao ser redor para entender e absorver o que está acontecendo, TUDO o que está acontecendo.

Já reparou que as fases não têm tempo? Pois é. Vai tranquilo [nem sempre dá pra ir assim], vai no seu ritmo e simplesmente viva tudo o está ali.

MELHOR COM OS AMIGOS [OU INIMIGOS, E DESCONHECIDOS TAMBÉM]

Além de ter o maior número de personagens jogáveis em toda a série, contando com 12 a serem escolhidos a qualquer momento: Mario, Luigi, Peach, Daisy, Toad Amarelo, Toad Azul, Toadette, Yoshi, Yoshi Vermelho, Yoshi Amarelo, Yoshi Azul-claro [não confundir com Yoshi Azul-escuro, isso é muito importante] e o Ledrão, o jogo também possui multiplayer co-op local e online. Localmente você pode jogar até com 4 amigos, e essa experiência pode ser crucial entre o fracasso e o sucesso. E isso é definitivamente uma via de mão dupla. Enquanto em algumas fases a ajuda é extremamente necessária, permitindo que seus amigos te ajudem a reviver caso você morra, ou alcançar lugares que inicialmente parecem inalcançáveis; em outros momentos eles podem atrapalhar, em fases mais difíceis onde cada pulo milimetricamente cronometrado conta. Portanto toda paciência do mundo e uma sincronia afiada são necessários para transpor esses obstáculos com amigos.

O modo online funciona de forma diferente. Você vê “fantasmas” de outros jogadores, e eles também podem te ajudar a reviver quando estiver em perigo, mas não interferem na física do seu personagem. Portanto a dinâmica aqui é outra. É mais fácil obter ajuda em alguns momentos, mas em fases onde o trabalho em equipe é essencial, você vai acabar se vendo sozinho, mesmo com todos os outros fantasmas no cenário com você.

Você pode jogar online com pessoas aleatórias do mundo todo ou criar salas com seus amigos.

MÚSICA PARA OS OUVIDOS

E claro que a obra de Koji Kondo, um dos maiores compositores de trilhas sonoras de jogos da atualidade, não iria se resumir apenas a um comentário. Porque é com sua FENOMENAL trilha sonora que Super Mario Bros. Wonder amarra todo o pacote que foi descrito nessa análise.

Além de ser um jogo parcialmente rítmico, como mencionado anteriormente, o jogo traz melodias que ficarão em nossas mentes por muito tempo. Músicas novas e originais e rearranjos de melodias clássicas como nunca havia se ouvido antes.

Independente de como essas músicas já tenham sido exploradas em jogos anteriores, não é em detrimento de outros jogos que Wonder brilha, mas sim em saber o tom certo para guiar a aventura que está se desdobrando à sua frente. Um ritmo sempre dinâmico, que procura impulsionar o jogador a seguir, a progredir, e cumpre bem seu trabalho. Não existe uma nota que soe ruim ou fora de tom em todo o jogo. E algumas surpresas esperam os mais saudosistas pelo caminho. Mario é uma série que sabe se homenagear das formas mais criativas possíveis, e quando você menos espera sempre aquela pontada no coração, direto no feels, quando achava que nada mais podia te surpreender.

E é isso que Super Mario Bros. Wonder faz da primeira fase à última: Surpreender. Um jogo que não é apenas um novo Mario. Mas um jogo que é totalmente novo. E é Mario. Como ele nunca foi antes.


Trailer

Gostou? Então compartilhe!

Angelo Mota

Jornalista que fala de Zelda nas horas vagas e também nas horas úteis. Mas também falo de Mario, de Animal Crossing, de Splatoon, de Pikmin, de Xenoblade e falo até de coisas que nem a Nintendo fala mais, como ARMS e Star Fox =[

5 thoughts on “[REVIEW] Super Mario Bros. Wonder – Maravilhosamente Surpreendente

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *