[REVIEW] Disgaea 6: Defiance of Destiny – Sequência com decisões duvidosas
Disgaea é uma série de RPG tático bastante antiga até, se contarmos que seu início foi em 2003 no adorado PS2, e atualmente já se encontra em seu sexto game. Seus jogos sempre foram recheados de bastante humor, personagens um tanto quanto sensuais, piadas engraçadinhas e diálogos, muitas vezes, sem pé nem cabeça e que são criados simplesmente com a intenção de fazer rir. Como não podia faltar, Disgaea 6: Defiance of Destiny continua tão maluco quanto seus antecessores, agora contando a história de um zumbi ressurreto que almeja destruir um deus, e o motivo é mais profundo do que você possa imaginar – e maluco.
Ficha Técnica
Título: Disgaea 6: Defiance of Destiny
Plataforma: Nintendo Switch
Data de lançamento: 29/06/2021
Tamanho: 6.3 GB
Desenvolvedora: Nippon Ichi Software
Publicadora: NIS America
Jogadores: 1
Em Português: Não
Gênero: Estratégia, RPG
Tempo de Jogo (em média): 30 horas
Save na Nuvem: Sim
Classificação: 12 anos
Ressurreição é algo cotidiano
Disgaea 6: Defiance of Destiny nos coloca na pele de Zed, um zumbi que volta à vida com o intuito de cumprir seu objetivo ambicioso: derrotar o Deus da Destruição a todo custo. Acontece que o “rapaz” já passou pela derrota diversas vezes, mas continua tentando já que é beneficiado ficando mais forte a cada morte e reencarnação. Para trilhar seu caminho para a vitória, o protagonista deve recrutar guerreiros e travar batalhas em diversos mundos e dimensões para evoluir seus poderes e, finalmente, ser capaz de atingir seu tão sonhado objetivo. Definitivamente, é uma história que não deve ser levada a sério.
O sexto jogo, em termos de jogabilidade, continua muito daquilo já visto nos outros títulos da franquia. Temos aqui um RPG tático, na mesma pegada de produtos como Final Fantasy Tactics do PlayStation, em que batalhamos em mapas com grids (quadrados no chão) e somos apresentados a uma história em formato de visual novel entre um combate e outro. Algumas poucas vezes as animações in-game dos personagens fazem parte de uma cutscene bem curta, mas nada constante. Entre uma batalha e outra, somos levados à base, que funciona como o Hub onde compramos itens, criamos novos NPCs para a equipe, melhoramos habilidades etc.
Muitas características únicas de Disgaea continuam presentes, como a curiosa função de levantar vários personagens em cima de suas mãos para arremessá-los em alguma direção a fim de alcançar locais mais altos, ou simplesmente para fazê-los andar em distância de espaços mais longos sem gastar o turno de movimentação. Porém, obviamente, o personagem que realizou o arremesso perde sua chance de atacar ou utilizar itens.
Outro fator bacana é a possibilidade de atacar primeiro e depois movimentar-se, algo incomum em jogos do gênero que lhe obrigam a realizar um movimento e depois executar um ataque. O terreno também pode influenciar os status dos personagens, como elevar o ataque caso algum deles esteja posicionado acima de um desses quadrados com efeitos adversos, aumentando o fator estratégico dentro de cada batalha. Como não podia faltar, personagens de curto e longo alcance também se fazem presentes, o que cria uma boa variedade dentro das possibilidades existentes.
O único fator negativo da jogabilidade em si, eu diria, é em relação a como as ações são executadas. Existe, literalmente, uma função chamada “Executar” no menu, que faz com que ataques, itens utilizados e tudo mais sejam, justamente, executados depois de serem escolhidos. Isso torna o ritmo das coisas mais cadenciado, exigindo ação do jogador constantemente. Por outro lado, é possível planejar-se melhor, sendo possível até mesmo o cancelamento da movimentação e ação de um personagem antes da execução do turno.
Até existe uma funcionalidade chamada “Auto-battle”, que faz com que os combates aconteçam de forma automatizada e bem rápida. Apesar da inteligência artificial não fazer um trabalho nem de longe decente no início, é possível criar condições para que todos realizem certas ações de acordo com a situação apresentada. Por exemplo, utilizar magias ou itens de cura quando alguém estiver com o HP baixo, o que torna as coisas mais interessantes.
De forma secundária, podemos realizar quests paralelas no quadro de missões secundárias, as quais são cumpridas dentro de qualquer missão principal – ou na base -, e consistem em tarefas como eliminar um número específico de inimigos, elevar o nível de um personagem até algum número X, utilizar um item uma certa quantidade de vezes, etc. As recompensas são dinheiro, experiência e itens comuns ou especiais. Além disso, cada personagem possui seus D-merits, que nada mais são do que objetivos pessoais de cada um deles, que recompensam com Karmas para melhoria de atributos, itens e habilidades assim que são cumpridos e são resgatados no menu correspondente a esta funcionalidade. Tratam-se de objetivos como chegar a um nível específico do personagem, voltar à vida várias vezes, entre outros.
Uma inserção bacana é a adição da área de Cheats – que não funcionam como cheats de fato. Aqui, você pode ajustar quantos por cento de mana, experiência e afins deseja receber a mais em cada batalha, em detrimento da diminuição da porcentagem de outra opção. Ou seja, aumentou em uma? Diminuiu em outro. É basicamente uma troca de acordo com sua preferência, e isso pode ser feito a qualquer momento dentro da base.
Uma mudança brusca de 2D para 3D
A principal mudança foi em relação ao visual, já que antes sempre foram vistos sprites 2D em todos os jogos da série. No lugar dos visuais planos, agora temos modelos 3D, mas ainda com aquele aspecto de anime caricato da série como um todo. Também existem pequenas e curtas animações inseridas em golpes especiais de alguns personagens, dando um charme a mais e tornando cada golpe em algo mais único e exclusivo. Porém, isso veio com um custo alto demais: a performance foi bastante afetada.
A dor e a delícia de Disgaea 6 são os gráficos e o fps. Felizmente, como deveria existir na maioria de ports para Nintendo Switch, podemos escolher entre três tipos de modos de visuais:
- Gráfico, que derruba o fps para a casa dos 30 e apresenta quedas de framerate que podem chegar até aos 20 fps, porém a resolução é aprimorada e tudo fica com visuais limpos;
- Performance, que joga o framerate para os 60 fps, mas mesmo assim não consegue manter sempre nestes valores. Para compensar este aumento de quadros por segundo, a resolução é extremamente prejudicada, tornando os gráficos completamente serrilhados e borrados, tanto no modo portátil quanto na Dock.
- Equilibrado, que faz um balanço entre qualidade e performance. É um modo agradável de renderização, porém ainda existem quedas bruscas em vários momentos. Ao menos os visuais não ficam horrorosos como em performance.
O mais engraçado, de forma geral, é que claramente Disgaea 6 não possui gráficos complexos e muito menos efeitos visuais absurdos, o que me deixa na dúvida sobre a atenção na “otimização” que o jogo recebeu. Aliás, exclusivamente, Disgaea 6 foi lançado no território japonês para PS4, e neste console ele também possui dois modos de renderização com problemas de quedas.
Para piorar, os visuais 3D também deixaram as coisas um pouco mais complicadas no sentido “situar-se no grid”. Me vi em uma constante batalha para acertar onde exatamente eu queria posicionar o personagem, já que existem apenas 3 terríveis níveis pré-definidos de zoom e 4 direções estabelecidas de ângulos. Se a câmera fosse algo possível de mover em 360º, certamente a história teria sido outra.
Disgaea 6 também persiste na ideia de ter números altíssimos em tudo que você possa imaginar. Os personagens começam em níveis absurdos, e facilmente alcançam o 99, por exemplo. Isso é algo característico da série há algum tempo e pode não agradar a alguns jogadores, como aconteceu comigo. O mesmo é executado nos golpes, pontos de saúde e similares, resultando em ataques com insanos 25.000 de dano, ou um HP de 90.000, tudo isso logo no início – o nível máximo é 99.999.999. Isso passa uma sensação de insignificância e banalização, transmitindo um sentimento de que tudo é fácil demais de se adquirir e realizar.
Outro problema que também foi carregado de seus antecessores é a criação de personagens extremamente genéricos e iguais, sem muitas opções de personalização. Em Disgaea 6 podemos criar novos personagens para compor a equipe sempre que estamos na base, e não existe uma modificação decente ou algo que torne suas criações únicas, além de pequenas variações de cores para cada classe em questão. É verdade que podemos recrutar figuras únicas para a equipe depois de algum tempo, porém ainda assim a falta de criatividade em personagens secundários deixa a desejar.
Boa jogabilidade, maçante em todo o resto
Disgaea 6: Defiance of Destiny definitivamente tem uma história bastante boba e lotada de piadas nada memoráveis. É difícil ter sua atenção presa pelo enredo, principalmente no formato visual novel em que o jogo insiste em trazer. Confesso que comecei a pular todos os diálogos depois de algumas horas, já que muitas falas, como falei, são feitas simplesmente para fazer o jogador rir. A jogabilidade permanece a mesma coisa existente há algum tempo na franquia, como dito anteriormente, o que pode ser um ponto bastante positivo para fãs de longa data. Porém, para novatos em Disgaea, a experiência pode soar mais como algo maluco demais na questão do enredo, além de menus lotados de textos, informações excessivas e batalhas não tão marcantes com seus números exagerados.
Infelizmente, o ponto mais baixo do sexto game, certamente, são seus gráficos que, apesar de belos e caricatos, foram claramente mal otimizados. Jogar Disgaea 6 no Switch é uma batalha entre resolução baixa e quedas de fps, e a culpa não é do console.
Trailer do Jogo
* Este review foi feito utilizando uma chave fornecida pela NIS America