[REVIEW] Miitopia – RPG em sua versão mais simplificada
Miitopia foi lançado originalmente para 3DS em 2017, e ficou preso no console todos estes anos até chegar, finalmente, ao Nintendo Switch. O jogo é um RPG em turnos, com a possibilidade de criar personagens com rostos de Miis, bonequinhos criados no sistema do console, para serem utilizados como o protagonista, vilão e todo o elenco de sua história fantasiosa. A nova versão para Nintendo Switch traz gráficos em alta definição, além de um editor mais complexo de maquiagem para os personagens que permite criações altamente diferenciadas. Embarque nessa jornada em busca dos rostos alheios!
Ficha Técnica
Título: Miitopia
Plataforma: Nintendo Switch
Data de lançamento: 21/5/2021
Tamanho: 3.1 GB
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Jogadores: 1
Em Português: Não
Gênero: RPG, Aventura
Tempo de Jogo (em média): 30 horas
Save na Nuvem: Sim
Classificação: Livre
Salve o dia – e a cara da galera
O enredo é bastante simples e cômico, e conta sobre um vilão malvado chamado Dark Lord que resolve roubar os rostos das pessoas do mundo onde se passa Miitopia, transferindo esses itens de furto para monstros ao redor do mundo. Como o herói da história, você precisa criar seu personagem e sair ao resgate do rosto de todos os cidadãos que tiveram suas faces roubadas, através de uma aventura muito bem humorada e descontraída, recheada de piadinhas constantes que, infelizmente, não oferecem o idioma Pt-Br – uma lástima.
Miitopia apresenta gráficos bastantes simples, porém, uma direção de arte fantástica aliada a uma interface de usuário muito bem feita que “casa” completamente com todo o restante. As músicas também não ficam para trás e oferecem faixas divertidas e de alto astral. Apesar de todos os rostos serem de Miis criados por você ou por pessoas pela internet, nenhum deles apresenta um design genérico, graças às suas roupas de tema medieval bastante coloridas e texturas em alta definição. O mesmo serve para os monstros, que também são criativos e bem variados, alternando-se entre gosmas, goblins, pedras gigantes, etc.
O mais bacana é que, além de criar personagens para compor o elenco de todo o jogo, podemos também pesquisar entre criações de amigos ou importar bonecos criados por pessoas aleatórias na internet. Isso abre um leque de opções muito grande e a possibilidade de escolher entre diversos Miis muito criativos, que vão desde o ex-presidente dos Estados Unidos até o próprio Mario, Link de The Legend of Zelda, Salsicha do Scooby-Doo e Jesus Cristo – é claro que criei um personagem clérigo e o coloquei como Jesus.
Fora isso tudo, podemos definir uma personalidade para cada membro da equipe, além do nosso próprio protagonista, como também escolher sua classe. Dentre elas, estão disponíveis as classes famosas do mundo dos RPGs, como cavaleiro, mago, clérigo, ladrão e até mesmo um Pop Star com um microfone na mão – vai entender. Com isso, ter uma equipe bastante diversificada é garantido, além de ser necessário identificar quais as vantagens de manter cada classe em atividade. Ladrão, por exemplo, ataca todos os inimigos simultaneamente com sua faca e rouba itens, já o clérigo é necessário para manter todos com o HP alto, entre outras estratégias. Não posso me esquecer também do cavalo, que é encontrado um pouco mais à frente no enredo.
A dor e a delícia: a jogabilidade automática
A parte que mais deveria empolgar em Miitopia, certamente, é a jogabilidade. Porém, ao mesmo tempo que ela é uma benção, também mostra-se uma maldição. O RPG de turno felizmente permite a aceleração utilizando os botões ZL, ZR ou B, deixando tanto as batalhas bem mais rápidas quanto qualquer diálogo existente no jogo. Ponto extremamente positivo por me dar a escolha de acelerar o ritmo ou não.
Porém, o único personagem que pode ser controlado, em geral, é o seu. Toda sua equipe possui comandos automatizados, e não podem sequer receber um pedido de ajuda através de um emoji, frase pré-definida ou qualquer coisa do tipo: seus aliados são 100% controlados pela inteligência artificial. Esse fator de automatização limita bastante a estratégia, principalmente se você estiver planejando criar um membro da equipe com a classe clériga, por exemplo. É comum em jogos assim reservarmos um personagem com poder de cura para, justamente, manter a equipe sempre com a vida cheia. Porém, aqui isso não acontece. Muitas vezes existe uma situação com dois personagens que estão com o HP baixo, e um deles possui um item no inventário capaz de curá-lo. A inteligência artificial não é capaz de racionalizar esse tipo de coisa para decidir qual é melhor para receber a cura, por exemplo.
O mesmo serve para outros membros de classes quaisquer, que podem acabar utilizando ataques extremamente bobos ou ineficazes contra certos inimigos. Fiz um teste com meu próprio protagonista, que também possui a opção de ser controlado pela IA. É nítido as más decisões que isso acaba resultando, como estar com a barra de mana cheia mas insistir em ataques comuns no lugar de skills bem mais poderosas que podem debilitar um chefe bem mais rapidamente.
A exploração do mundo em Miitopia também é inexistente. Durante suas viagens automatizadas em zonas de batalhas, sua equipe tem a chance de encontrar inimigos para combater, ou simplesmente itens consumíveis largados pelo chão, baús com a opção de serem abertos, e até mesmo passar por algum evento social bem rápido simplesmente para aumentar a interação entre os personagens. Mesmo com esse fator aleatório em apresentar eventos engraçados e extremamente criativos por diversos momentos, tudo acontece de maneira 100% automática e sem ação humana, de forma geral.
O máximo que nos possibilitam por aqui é andar entre cenários contendo NPCs com alguns diálogos, mas nada do tipo uma cidade com várias lojas espalhadas permitindo compra e venda de itens, casas para adentrarmos, entre outros elementos predominantes em títulos do gênero.
Pousada, bom-humor e jogatinas em intervalos de tempo
Dentre vários momentos da sua exploração automática podemos encontrar pousadas, onde é possível realizar diversas ações, como comprar itens para membros da equipe, dar comida a eles a fim de aumentar o nível de atributos, levar alguma dupla para passar um tempo juntos em algum lugar para relaxar, ou então jogar pedra-papel-tesoura contra um NPC para receber 500g em dinheiro, aumentando a recebida quantia quando você o vence, além de uma roleta que concede prêmios diversos. Esses últimos utilizam bilhetes para permitir a jogatina.
Cada vez que damos um tempo e voltamos ao nosso progresso, recebemos uma carta de algum Mii aleatório contendo bilhetes para sairmos para algum lugar e passar o tempo com algum membro da equipe. É uma forma interessante de fazer você estar sempre visitando Miitopia em curtos intervalos de tempo – ou diariamente. Às vezes, na pousada, também é possível receber estes bilhetes de alguns Miis.
Subindo o nível dos personagens, novas habilidades são desbloqueadas como também formas de assistência durante uma batalha e reações em conjunto entre membros da equipe. Porém, como sempre, todas as ações são automatizadas e acontecem durante batalhas em momentos bem imprevisíveis. Ao menos o protagonista recebe golpes novos possíveis de serem usados contra inimigos.
Em questão de criatividade e bom humor, Miitopia dá um show, com cenas engraçadinhas e diálogos fora de série, a maioria apresentando-se de formas bem interessantes. É possível também ocorrerem eventos aleatórios dentro de batalhas, como um personagem entrar na frente do outro para receber o dano no lugar do primeiro, resultando em um aumento de relacionamento entre ambos. Também há momentos bobinhos durante a exploração automática, como um membro da equipe estar com soluço e você poder escolher assustá-lo ou não para curá-lo e aumentar sua amizade. Ou então escolhas simples, como puxar ou não uma alavanca encontrada por algum companheiro.
Cenas cômicas também com inimigos é algo comum, como um monstro que nos faz chorar rios de lágrimas e inabilita um personagem nosso por alguns turnos, exigindo posicioná-lo num local chamado “zona segura”; ou então algum membro da equipe que simplesmente começa a brincar com um inimigo, por causa de sua personalidade mais “avoada”.
RPG simplificado ou superficialidade demais?
Miitopia pode ser considerado um RPG simplificado para muitos, porém, para mim muitas vezes me fez ter a sensação de estar jogando um “clicker”, games famosos no mobile por exigirem interações bastantes simples e até mesmo possíveis de serem jogados com uma mão. Miitopia é divertidíssimo em questão de diálogos, cenas dinâmicas, relacionamentos entre personagens e sua liberdade incrível em criar personagens e faces únicas. Porém, a jogabilidade fica completamente de lado por aqui, dando ao jogador algo que não depende tanto de suas ações para progredir, muito menos para escolher o caminho certo.
Em poucas horas, o jogo acaba ficando bastante repetitivo, e isso se agrava por causa do fator automatização de ações dos outros membros de sua equipe e da exploração inexistente de forma geral. Tenho certeza de que se uma continuação vier a existir no futuro e abordar a jogabilidade de forma a deixar o controle plenamente nas mãos do jogador, Miitopia será uma experiência bem mais agradável do que a oferecida aqui. Por ora, recomendo apenas se você não se importar em experienciar um RPG bastante superficial que não te deixa atuar de forma direta.
Trailer do Jogo
* Este review foi feito utilizando uma chave fornecida pela Nintendo