[REVIEW] Hyrule Warriors: Age of Calamity – (Re)contando uma grande história
Uma das maiores franquias dos videogames, em uma Hyrule que trouxe renovação, novas ideias para RPGs e quase criou um gênero próprio, agora tem a sua história pregressa contada de uma forma totalmente diferente.
Voltamos ao mundo de Breath of the Wild, 100 anos antes do jogo e agora cheio de hordas de Goblins e outras criaturas para enfrentarmos. Isso mesmo, é o Musou Hyrule Warriors: Age of Calamity que nos conta como Ganon devastou o mundo de BOTW (ou quase isso).
Para aqueles não familiarizados, Musou é um gênero em que o objetivo é derrotar um grande número de inimigos enquanto você domina territórios. A jogabilidade consiste em combos de batalha exagerados, alternância no controle dos personagens e desafios de tempo e desempenho.
Não é a primeira vez que Zelda e Musou se misturam em um jogo. O primeiro Hyrule Warriors saiu para Wii U, com versões para 3DS e Switch, colocando diversos personagens da franquia juntos para dar porradas em inimigos. Inclusive, Linkle, a “link mulher”, foi criada só para esse jogo.
As polêmicas por essa escolha da Nintendo se deve à diferença entre a jogabilidade Musou e a de Zelda Breath of the Wild, além do fato dessa importante história ser contada nesse estilo de jogo, que não agrada a uma parcela do público.
Mas será que essa combinação dá certo? Vale a pena se arriscar nesse gênero para revisitar uma das melhores Hyrules já feitas? Vamos descobrir nesse review!
Ficha Técnica
Título: Hyrule Warriors: Age of Calamity
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 20/11/2020
Tamanho: 10.9 GB
Desenvolvedora/Publicadora: Koei Tecmo / Nintendo
Jogadores: 1-2
Save na nuvem: Sim
Em português: Não
Gênero: Ação, Aventura, Luta
Preço no Lançamento (US): US$ 59.99
Preço no Lançamento (BR): R$ 299,99
Voltando para Hyrule!
A primeira cutscene de um novo jogo em um universo tão grandioso, como o do último Zelda, é uma mistura de sensações. No caso de Hyrule Warriors: Age of Calamity o destaque vai para os personagens.
Zelda possui um background muito profundo, a Impa jovem é a coisa mais fofa do mundo e sempre rouba a cena, o Rei de Hyrule mostra a imponência que o seu cargo exige e os campeões nem se fala, cada um muito bem alinhado àquilo que vemos em BOTW.
A Koei também acertou em cheio na ambientação de Age of Calamity. Impossível não sentir aquela nostalgia e a vontade de saber mais a cada nova (e linda!) cena que conta a história dessa antiga Hyrule.
Falando em personagens, agora temos um mini guardião que nos acompanha nas batalhas, dá dicas de melhorias e que já pode ser apelidado de “R2D2 de Zelda”. Obviamente, ele tem um papel fundamental na história.
Lembrando que, diferente de Breath of the Wild, em Hyrule Warriors podemos jogar com Zelda, Impa, os campeões e outros personagens, fator, talvez, que nos aproxima um pouco mais de cada um.
Além de apresentar a “galera de Hyrule”, o início do jogo serve como um tutorial de combate e de como funcionam as áreas do mapa – algo que falaremos mais adiante. O centro de Hyrule é o nosso ponto de partida, início que, inclusive, pode ser jogado na demo disponível na eShop.
Depois de derrotar alguns inimigos e aprender os principais controles do jogo, o mapa de Hyrule revela as quatro regiões que tanto conhecemos: Zora’s Domain, Death Mountain, Rito Village e Gerudo Town. Cada região possui uma missão principal, que ao ser completada libera o Campeão da área correspondente como personagem jogável.
O mapa de Age of Calamity é dividido por regiões famosas em Breath of the Wild, onde temos missões principais, secundárias, lojas, desafios que dão itens e locais para aumentar a experiência dos personagens. O jogador é livre para seguir apenas a história principal ou explorar as outras missões para ganhar recompensas.
Ao completar qualquer missão ou desafio, o mapa de Hyrule é atualizado com itens espalhados por todas as regiões. Chega um momento em que o seu mapa se enche com esses itens e fica difícil até decidir o seu próximo desafio
O que destoa da Hyrule que tanto exaltamos em Breath of the Wild é a jogabilidade de Age of Calamity, mas isso não significa que a Koei não fez um bom trabalho.
Jogabilidade
Podemos dizer que a jogabilidade de Age of Calamity não tem, obviamente, toda a complexidade e recursos de Breath of the Wild – até porque são gêneros diferentes. Porém, Age of Calamity traz um gameplay muito mais complexo e com mais opções que outros jogos Musou.
Primeiramente, é importante separar os três tipos de combate do jogo: o clássico e mais conhecido dos Musou, que é contra hordas de “minions”; o modo contra os chefes, em que você trava a mira em um inimigo mais forte e tem uma luta x1; e o modo em que você pode controlar as Divine Beasts de Breath of the Wild.
A maioria das missões seguem a mesma lógica: chegar em uma área dominada pelos inimigos, limpar as hordas com oponentes mais fracos e depois enfrentar o chefe daquele território. Essa mecânica é incrementada com desafios de tempo, batalha contra dois ou mais chefes ao mesmo tempo e às vezes até resolução de puzzles simples ou missões de resgate ou proteção.
As batalhas contra chefes como Lynel’s, Hynox’s e outros (spoilers) do jogo, foram as minhas favoritas. A Koei conseguiu balancear bem o combate entre o modo contra hordas (em que você sente aquela satisfação de varrer uma multidão de inimigos) com as batalhas mais estratégicas contra chefes (que exigem reflexo e uma familiaridade com os combos dos personagens que você controla).
Já a jogabilidade das Divine Beasts me pareceu mais lenta e menos overpower do que eu imaginava. Ainda assim, é muito legal controlar essas máquinas e dizimar centenas de inimigos a cada golpe.
Cada personagem tem uma jogabilidade diferente também. Daruk é mais pesado, mas causa mais dano; Mipha é mais rápida e encaixa mais golpes nos combos, porém esses golpes não machucam tanto o inimigo. Além disso, os combos e especiais são únicos para cada um, o que mostra um trabalho impressionante devido à quantidade de personagens jogáveis.
As armas também fazem toda a diferença. Raveli usa um arco e flecha; Urbosa vai com duas espadas; Zelda tem o Sheikah Slate e o seu arco angelical; e a Impa carrega uma faca de ninja. Link é o único personagem que consegue usar espada com escudo, espada de duas mãos e lança.
Você pode descobrir todos os personagens jogáveis aqui (pode haver spoilers da narrativa nessa lista).
História
Contar a história pregressa de um jogo tão grandioso quanto Breath of the Wild é um desafio e tanto. Conhecendo a Nintendo e a importância da franquia Zelda, é quase 100% de certeza que a dona Big N tomou todas as decisões nesse roteiro.
Ao todo são sete capítulos e 20 missões, algumas com aquela clássica “barriguinha”, mas em nenhum momento o jogo passa a sensação de enrolar a sua narrativa para ganhar mais horas de gameplay.
Logo no capítulo 1, que está disponível na demo, vemos o mini guardião fazendo uma espécie de viagem no tempo, algo que deixou alguns jogadores insatisfeitos. Em alguns momentos da história, também me surpreendi negativamente com a abordagem de determinados personagens e escolhas dessa narrativa.
Qualquer fã de Zelda que pensa em viagem no tempo já lembra como a franquia lida com as diferentes linhas temporais para trançar uma narrativa entre os seus jogos. Então, podemos dizer que essa viagem no tempo do capítulo 1 pode deixar muitas perguntas de Breath of the Wild ainda sem resposta.
Por um outro lado, a história de Age of Calamity é muito bem contada. Talvez o maior acerto para isso acontecer foi a fidelidade que a Koei trouxe para cada personagem. A sensação de urgência, a exploração de cada personalidade e descobrir como os povos viviam nessa Hyrule são elementos muito bem explorados na narrativa.
Em um contexto geral e usando uma frase bem clichê: vale muito mais o caminho percorrido na história de Age of Calamity do que o resultado final.
É bom lembrar que o jogo possui uma espécie de “final verdadeiro” que pode ser feito após completar a história principal e cumprir trabalhosas missões secundárias.
Gráficos, Sons e Desempenho
A trilha sonora de Age of Calamity segue o mesmo nível que as músicas épicas de Breath of the Wild. Os temas de ação e que trazem aquela sensação de perigo iminente nos transportam para dentro da aventura sem percebermos. A trilha também muda conforme os momentos da história e esse é um detalhe interessante de observar.
Quanto aos gráficos, pelo menos a primeira impressão não foi a das melhores. Na demo, as áreas que visitamos são abertas e as missões durante o dia. Ao visitar Zora’s Domain, que possui uma ambientação chuvosa e noturna, é perceptível uma queda de resolução e de frames dependendo da quantidade de inimigos na tela ou da animação de combate.
Com o decorrer da jogatina essas quedas ficam mais raras, não é possível saber se é um problema específico dessa área ou se foi corrigido em algum update após o lançamento. Apesar de perceptíveis, esses problemas não estragam o gameplay no geral.
Por um outro lado, as cutscenes estão lindas e algumas delas tiram lágrimas dos olhos e outras te empolgam para derrotar o mal de Hyrule.
Veredito
Hyrule Warriors: Age of Calamity é um jogo que surpreende na sua qualidade e cuidado, mesmo sendo um jogo de um gênero que explora muitas franquias. Nesse Musou temos novos tipos de combate, uma narrativa muito bem alinhada à Zelda e diversos momentos que você se sente em Breath of the Wild de novo.
O grande porém é a jogabilidade Musou para aqueles que não gostam do estilo. A história principal exige pelo menos 20 horas de gameplay (sem contar o “final verdadeiro”) e isso pode ser cansativo até para os mais acostumados com esse tipo de jogabilidade. O que é uma pena, já que a narrativa de Age of Calamity pode ser considerada uma das melhores da franquia Zelda.
Independente das escolhas duvidosas ou polêmicas, Age of Calamity “entende” a importância do universo de Breath of the Wild e transmite isso no ótimo trabalho nas cutscenes, na variedade de personagens e modos de combate e na fidelidade ao lidar com personagens tão marcantes.
Apesar do gostinho agridoce em momentos chave do jogo, Hyrule Warriors: Age of Calamity é um tributo para os fãs de Zelda. E consegue, do seu jeito Musou, trazer Breath of the Wild de volta de alguma forma.
Trailer do Jogo
*Esta análise foi escrita utilizando uma chave fornecida pela Nintendo