[REVIEW] The Turing Test – Uma jornada inteligente
Uma jornada pelos conceitos de inteligência artificial (IA) e inteligência humana que nos faz questionar o que nos difere de outros seres e das máquinas. Tudo isso envolto em um ar de mistério e com muitos puzzles para resolver. Porém, será que The Turing Test passa no teste?
Ficha Técnica
Título: The Turing Test
Plataforma: Nintendo Switch
Data de Lançamento: 07/02/2020
Tamanho: 2.7 GB
Desenvolvedora/Publicadora: Bulkhead Interactive/Square Enix Europe LTD
Jogadores: 1
Save na nuvem: Sim
Em português: Não
Gênero: Puzzle
Preço no Lançamento (US): US$ 19.99
Tempo de Jogo (média): 5-6 horas
Turing e a IA
E se um computador pudesse pensar como nós pensamos? Será que ele conseguiria nos enganar a ponto de pensarmos que estamos nos comunicando com um humano e não com uma máquina? Essa foi a pergunta que Alan Turing se fez ao escrever um de seus artigos, em 1950. Alan Turing é considerado o pai da computação e este foi um dos primeiros questionamentos desenvolvidos para a Inteligência Artificial.
Turing costumava fazer uma brincadeira chamada de “O Jogo da Imitação” em que um homem e uma mulher ficavam presos em uma sala e passavam bilhetes para um receptor em outra sala. Somente pela leitura dos papéis, esta outra pessoa deveria descobrir quem é o homem e quem é a mulher.
Contudo, e se tivéssemos em uma sala um ser humano e na outra uma máquina tão inteligente que fosse capaz de simular a mente humana? Será que o receptor dos bilhetes conseguiria distinguir quem é quem?
Este é um conceito extremamente atual e é a base do jogo The Turing Test. Porém, será que uma IA com essa facilidade comportamental poderia representar algum risco para a humanidade? Ou será que seria benéfico?
História
The Turing Test se passa no espaço, na lua Europa do planeta Júpiter. O jogador controla Ava Turing – que trabalha para a agência ISA (International Space Agency) – e deve investigar o desaparecimento de toda uma tripulação que estava trabalhando naquele local.
Ava conta com a ajuda de Tom, uma Inteligência Artificial que a guiará ao longo do complexo, fornecendo detalhes sobre os acontecimentos ocorridos. A interação entre Tom e Ava lembra bastante o jogo Portal, que também conta com uma inteligência artificial que vai estabelecendo diálogos com o protagonista e dando informações sobre aquele mundo.
Além de interagir com o Tom, o jogador poderá explorar áreas em que a tripulação esteve, ver seus objetos pessoais, ouvir suas gravações, ler os registros que eles fizeram e entender suas motivações. Isso acaba criando uma simpatia com os tripulantes e deixa a história mais pessoal.
Contudo, o jogo vai além de simplesmente entender o desaparecimento da tripulação, pois passa por questionamentos sobre o funcionamento da mente humana e suas diferenças com relação à IA (ex: percepção humana de moral, de valor das coisas, de ética, entre outras coisas); sobre agir com base em um pensamento lógico ou emocional; sobre tomar atitudes com a razão ou com o instinto; e, até mesmo, flertando com conceitos mais complexos como a singularidade.
Singularidade é, no ramo tecnológico e para simplificar bem, um conceito que trata do crescimento das inteligências artificiais de forma a superar, em um breve período de tempo, a capacidade humana. É um conceito bastante perigoso de se abordar em um jogo ou obra de entretenimento, pois produtores tendem a exagerar demais, vilanizando as máquinas de maneira exacerbada ou deixando-as como salvadoras da raça humana com suas invenções e soluções miraculosas.
Entretanto, The Turing Test consegue abordar um assunto tão complexo e perigoso de forma bastante satisfatória. A história, questionamentos e reflexões com assuntos tão atuais fazem, por si só, este título já ser excelente de se jogar. Porém, um jogo se faz pela jogabilidade também, e nesse quesito o jogo não deixa a desejar.
Importante ressaltar, porém, que o jogo não está em português. E como ele possui muita informação textual e os diálogos que existem são apresentados de forma corrida (sem aquele famoso “aperte o A para continuar”), isso pode ser um grande empecilho para as pessoas que não tem tanta familiaridade com o idioma inglês.
Jogabilidade
Sua semelhança com The Talos Principle (para o qual nós temos review e um Nintendo POWdcast #104) chama a atenção. Como dito anteriormente, ele também guarda semelhança com o excelente Portal, pela sua estética e puzzles realizados em salas sequenciais, além da presença de uma “arma” para resolução de puzzles.
A visão é em primeira pessoa e o jogador anda por câmaras com desafios para serem resolvidos. O gameplay é baseado em energizar portas e certos componentes do cenário, de forma a conseguir chegar na porta que leva para a próxima sala com um próximo desafio.
Basicamente o sistema de energização de portas e de outros dispositivos do cenário é ativado com as baterias físicas (uma espécie de caixa que você pode plugar em locais específicos) ou com globos de energia. Estes globos você consegue absorver com sua arma e dispará-los em outra unidade de energia, o que é um uso bem interessante para a arma do jogo.
Ao longo da jornada são apresentados vários elementos e dispositivos com os quais é possível interagir como, por exemplo, imãs, painéis de pressão no chão, plataformas que se elevam, pontes, etc. Esses elementos acabam deixando os desafios ainda mais interessantes, porém o objetivo ainda é fazer a energia chegar até a porta de saída da câmara.
Infelizmente algumas mecânicas são apresentadas e pouco utilizadas nos 70 estágios (divididos em 7 setores). Por falar nisso, ao final de cada setor, Ava entra em uma sala em que é possível explorar e conhecer maiores detalhes sobre a tripulação e sobre o que eles estavam fazendo naquele local. É possível achar registros em áudio, textos, objetos pessoais, entre outros.
A título de exemplo, na imagem abaixo é possível notar algumas das diversas mecânicas apresentadas para a resolução de um quebra-cabeça. À esquerda está a bateria física em cima de uma plataforma; na parte central existe o imã que é ativado pelo globo de energia no topo (esfera verde que faz o dispositivo funcionar e que é absorvível pela arma); o painel de controle do imã próximo à arma; e a porta de saída com duas unidades de energização que você precisa ativar para ir para a próxima câmara.
Por fim, o jogo não possui combates com criaturas horrendas nem contra outros humanos, ele não é sobre isso. É só você, o puzzle e a história. São esses três elementos nos quais o jogo se sustenta.
A Dificuldade
Sobre a dificuldade do jogo, os puzzles não são tão fáceis, mas também não são tão difíceis que os tornem frustrantes. Eles possuem uma dificuldade bastante acessível e com uma curva de incremento bem balanceada. Claro que há momentos em que você olha um problema e pensa “o que raios devo que fazer aqui?”. Porém, à medida em que você vai avançando dentro de cada câmara, as coisas vão se tornando muito mais claras e tudo vai se encaixando como um verdadeiro quebra-cabeças.
É impressionante como The Turing Test consegue nos oferecer um bom desafio (passando dos mais triviais e ficando mais complicados conforme você vai avançando) sem nos dar a sensação de estarmos completamente perdido. A descoberta e o sentimento de evolução a cada pequeno avanço obtido são recompensadores. E quando ao final de uma área analisamos todos os passos que nos levaram até aquele ponto, percebemos o quão simples as soluções eram.
Além disso, por diversos momentos ele exige a utilização da criatividade para resolver um puzzle, fazendo com que o jogador tenha que pensar “fora da caixa”, e isso é proposital. Acontece que a mente humana é “projetada” para descobrir soluções criativas para determinados problemas da vida real (que muitas vezes fogem da lógica e de um script). Isso é o que nos diferencia como seres pensantes e torna o ser humano tão impressionante. E quando usamos essa capacidade a nosso favor neste jogo, temos a sensação de sermos premiados e termos “burlado o sistema”, mesmo que isso seja algo já previsto pelos desenvolvedores.
Gráficos e Sons
A trilha sonora é mais tranquila e traz uma leveza ao jogo, permitindo que o jogador relaxe e tente resolver os puzzles sem pressa. São músicas que são repetidas durante o jogo, mas não são entediantes ou incomodam.
Os efeitos sonoros cumprem seu papel, não fazendo nada de excepcional ou de anormal. Ainda sobre sons, destaque para as dublagens do jogo, principalmente a do Tom, que está magnífica.
Já a questão gráfica é um fator a se considerar. O jogo no modo portátil é lindíssimo e consegue trazer a beleza e “paz” de uma instalação espacial deserta. Contudo, no modo dock o jogo parece um pouco embaçado, o que dá uma sensação de que o jogador está com uma leve miopia. Isso não é nada que atrapalhe ou que gere repulsão imediata, mas é algo notável já nos primeiros minutos de gameplay.
Veredito
Como fã de The Talos Principle e Portal digo que este jogo está também no meu coração.
Seus questionamentos, suas reflexões, interações entre um ser humano (Ava) e uma máquina (Tom), puzzles e ambientação me cativaram. Por diversas vezes fiquei refletindo sobre as discussões oferecidas pelo jogo, mesmo após desligar o console.
Contudo, por ser um jogo com foco em puzzles e sem combate algum, este não é um título que agradará a uma boa parcela dos jogadores. Por isso, se você gosta de jogos do gênero como The Talos Principle, Portal e The Witness, este jogo te divertirá muito.
Infelizmente ele não está em português e seus diálogos e complexidade das discussões podem afastar os jogadores que não têm familiaridade com o idioma.
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