[REVIEW] The Talos Principle – Uma Jornada em Busca de Respostas
Um robô deve superar vários desafios de puzzles para entender a humanidade e sua própria existência. Mas será que isso é bom? É o que veremos na análise de hoje.
Ficha Técnica
Título: The Talos Principle: Deluxe Edition
Plataforma: Nintendo Switch
Tamanho: 3,6GB
Desenvolvedora/Publicadora: Croteam/Devolver Digital
Jogadores: 1
Em Português: Não
Gênero: Puzzle
Save na Nuvem: Sim
Classificação: 10+
História
Você inicia do nada em uma terra linda, cheia de ruínas de alguma civilização de outrora e sem conhecimento prévio do mundo ao seu redor. Não há nenhuma construção de narrativa pregressa, apenas você, o mundo e uma voz que te dá as boas-vindas. E esta voz tem um nome: Elohim.
Elohim é uma palavra hebraica que normalmente significa “Deus”, podendo também significar “deuses”, “anjos” ou “homens poderosos”. Durante seu discurso inicial, ele se diz ser um ser onipresente e benevolente, além de dizer-lhe que, caso consiga completar todos os desafios daquelas terras devastadas, você terá direito a usufruir da vida eterna.
Com tantas referências religiosas, The Talos Principle é um daqueles jogos que vai muito além de um rostinho bonito e aborda várias questões da existência, da natureza humana, da religiosidade, das responsabilidades da sociedade, dos impactos da tecnologia e muita, mas muita filosofia.
Você vai conhecendo a história aos poucos, por intermédio do próprio Elohim, dos terminais de computadores (que apresentam vários textos interessantes e que questionarão vários aspectos sociais), de cartazes com QR Codes espalhados pelo cenário ou por áudios achados durante a campanha.
Invariavelmente você se verá perguntando “o que é ser humano?”, “O que é ser uma pessoa”, “qual o conceito de cidadania”, “o que nos torna diferentes?”, “Qual é o nosso propósito?”….. São tantos questionamentos apresentados que vão muito mais além do que a maioria dos jogos se propõe a ser. A busca por respostas é o que move a sociedade e The Talos Principle é uma jornada em direção à construção do conhecimento (interior e exterior).
Entretanto, há que se dizer que este é um jogo muito interpretativo e intimista. Novas perguntas surgem a cada resposta obtida. E se engana quem acha que o objetivo do jogo é dar respostas ao jogador, pois o que ele faz, na verdade, é te dar uma reflexão sobre a existência e tentar te fazer ter suas próprias convicções. Pelo menos foi assim que eu interpretei. Repare que, de novo, apareceu a palavra “Interpretação”! Ela é que define The Talos Principle e como você irá se identificar (ou repudiar!) com a sua história.
Jogabilidade
Você controla um androide (há a possibilidade de escolher entre a visão em primeira pessoa ou em terceira pessoa) e lhe é permitido andar, correr, pular e interagir com alguns equipamentos. Como dito anteriormente, você utilizará estas ações para resolver os diversos puzzles e finalmente conseguir a vida eterna.
Não há combate, não há desafios de plataforma, não há exigências de reflexos aguçados para superar uma dificuldade… O jogo foca unicamente na capacidade intelectual do jogador para resolver os diversos problemas usando apenas lógica e percepção ambiental.
E para as resoluções dos quebra-cabeças, durante a campanha, você irá se deparar com diversos equipamentos que você deverá utilizar. Existem os Jams (que anulam o funcionamento de várias equipamentos), cristais de luz (que fazem feixes de luz irem de um ponto a outro), ventiladores, etc. Conforme o jogador vai evoluindo, novos equipamentos vão sendo incorporados e mais complexas as soluções vão se tornando.
Além disso, em algumas das áreas, há máquinas que podem te matar e você deverá anulá-las, evitá-las ou eliminá-las usando somente as puras e simples lógica e percepção (lembre-se que não há combate).
Para cada desafio solucionado, você receberá uma peça chamada Glyph, um tetraminó no estilo Tetris. As peças são divididas em grupos temáticos, permitindo o acesso a novos mundos do jogo ou a novos equipamentos.
Por exemplo: você tem que obter quatro Glyphs do mesmo “grupo” para poder avançar para um determinado mundo. Na imagem abaixo vemos que falta apenas uma Glyph do grupo B para poder acessar uma nova área. Por outro lado, faltam três do grupo “ventilador” para liberar acesso ao novo equipamento.
Com todas as peças de um mesmo agrupamento obtidas, é chegada a hora de utilizá-las. Você deve se dirigir a um painel específico e colocar as peças em uma espécie de tabuleiro de damas, fazendo com que elas preencham toda a área. Inicialmente, parece uma tarefa fácil. Porém, chegando mais ao final do jogo, os desafios ficam cada vez mais exigentes e você terá que pensar um bocado para resolvê-los. Para melhor exemplificação, vide a imagem
Além dos tetraminós, temos algumas estrelas escondidas no mundo. Juntando todas elas você……. bem…. é spoiler e queremos evitar, não é? O próprio jogo avisa nas placas em cada ponto de spawn quantas peças e quantas estrelas existem naquele cenário. E também risca os que já tiverem sido obtidos.
Você pode imaginar que, ao tentar resolver um desafio, algo possa sair errado, não é? Alguns puzzles são tão complexos que às vezes um reinício pode vir bem a calhar. E existe essa função de reset no jogo, o que é excelente.
Infelizmente, o jogo sofre com loadings demorados, o que não é exatamente um problema grave, tendo em vista que são esporádicos. Uma vez em uma área de jogo, você não precisará de um novo loading enquanto estiver lá. Mas quando você volta ao hub e quando acessa uma nova área, são dois processos de carregamento de informações que você deve aguardar.
Gráficos e Sons
O jogo é lindo de se ver. Eu tive a oportunidade de jogá-lo no PS4 antes de testá-lo no Switch também. A queda gráfica é perceptível entre as versões, porém já adianto que este quesito não me incomodou e ainda acho que ele continua bonito, principalmente com o console no Dock.
Além disso, a dica para os que forem começar é: existe a possibilidade de configurar os gráficos focados em performance ou na beleza. Com o Switch tentando rodar o jogo focando na beleza gráfica, notei quedas de framerate bastantes acentuadas, me incomodando na experiência final. Quando alterei para o foco na performance, reparei a retirada de vários efeitos e uma imagem com menos detalhes, mas, como dito anteriormente, ainda achei um bom port.
Infelizmente o jogo perde muito do seu brilho no modo portátil, pois a queda gráfica é ainda mais acentuada e é um jogo que exige que você tenha atenção aos mínimos detalhes. Às vezes, para obtenção de algumas soluções, você precisa enxergar elementos que estão distantes da localização em que você está, o que fica muito difícil de visualizar em uma tela tão pequena. Um outro ponto a se destacar é que os textos estão muito pequenos na versão portátil (apesar de não impedir a leitura, dificulta o processo).
Por fim, a trilha sonora deste jogo é quase uma orquestra com vozes em coro que funciona em looping e fica somente de fundo. Lembra muito a experiência de entrar em uma catedral com um coral de vozes a te receber, o que inacreditavelmente não me incomodou.
Embora este jogo quase não possua outros sons além do produzido pelo ambiente em que você está, acho que a experiência sonora, de uma forma geral é muito boa. Destaque vai para o trabalho de dublagem do Elohim e dos arquivos de áudio encontrados durante a sua jornada, pois é primoroso e ajuda muito a te dar o contexto do mundo do jogo.
A versão Deluxe
Para finalizar esta análise, é importante salientar que a versão deluxe do Switch já possui a DLC Road to Gehenna que conta uma nova aventura. Esta campanha se passa após os eventos do jogo principal, apresentando novas áreas a serem exploradas. É uma DLC que traz desafios ainda maiores que os do jogo original.
Veredito
The Talos Principle é um jogo que está no meu coração desde a primeira vez que o joguei. É muito bom poder revisitá-lo no Switch. Por isso, agradeço à Devolver Digital por ter cedido esta chave para que possamos fazer a análise.
Este é um jogo que te exigirá mentalmente na solução de problemas, além de te fazer refletir diante das diversas questões apresentadas. Apesar de ser a minha segunda vez jogando, invariavelmente me peguei pensando nos questionamentos do jogo, mesmo após ter desligado o console.
Entretanto, acredito que, por ser um jogo com uma jogabilidade focada unicamente em puzzles (mesmo tendo uma ótima narrativa por trás) e, por consequência, sem combates ou exigência de habilidades mecânicas do jogador, este jogo possa não agradar a uma boa parte dos jogadores, tornando-se até mesmo um game de nicho. Porém, se você é adepto desse estilo de gameplay, acho que este pode ser um excelente título para a sua biblioteca.
Todavia, há que se ressaltar que este game não está em português, o que pode comprometer a completude da experiência do jogador. A quantidade de textos e monólogos explicativos são grandes e o entendimento da língua inglesa é essencial para perfeita compreensão da história. Contudo, mesmo que você não tenha domínio do idioma e gosta de jogos do gênero, ainda assim é possível se divertir com os desafios propostos que são muito bem feitos.
É isso! Agora estou na torcida pelo The Talos Principle 2 que, com toda a certeza deste mundo, jogarei. Espero que tenha gostado do review e até a próxima!
Trailer do Jogo
Este Review foi feito utilizando uma cópia enviada pelos produtores.
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