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Em ritmo de Copa: Preconceito com a Rússia nos games

Estamos em ano de copa, e dessa vez ela ocorrerá nas longínquas terras eurasianas, na famosa Mãe Rússia. Terra de gênios como Tchaikovsky, Dostoiévski, Rachmaninoff; bem como de outras figuras mais intrigantes como Stálin. Porém, não vou entrar nesses aspectos políticos. Neste texto falarei sobre o preconceito que os ocidentais têm com essa parte ao leste da Europa.

Uma extensa parte dos produtos de cultura pop que consumimos é feita aqui no ocidente (apesar de termos um crescente consumo de diversos produtos orientais). Nessas obras, por motivos políticos e principalmente por causa da Guerra Fria, a Europa Oriental geralmente é vista de forma negativa, refletindo o pensamento capitalista da época.

A mesma Guerra Fria proporcionou um grande avanço de tecnologia, o que indiretamente auxiliou na invenção dos nossos tão amados videogames. Por muitos anos, mesmo após as guerras, foi o antagonismo da União Soviética que se destacou. Pois, sendo “inimiga” dos Estados Unidos, a cultura pop produzida no ocidente geralmente passava essa imagem.

Como o progresso do Brasil ocorreu com uma mão dos países ocidentais e capitalistas, nossa mídia e cultura pop nos vendeu uma imagem ruim da URSS na época, e Rússia hoje em dia. Assim como os habitantes das regiões dominadas pela União Soviética eram bombardeados com obras que denegriam a imagem dos capitalistas.

Com a Guerra Fria se esquentando (perdão pela piada infame), as agências de espionagem americanas e soviéticas ajudaram na formação de rivalidade entre os ideais, o que reforçava a produção de vilões soviéticos nos filmes, livros e jogos. Podemos citar, entre muitos, vários vilões de 007, como Necros e Kamal Kahn.

Entre os quadrinhos os vilões russos e soviéticos são bem comuns. Temos Kraven, um perigosíssimo vilão do Homem-aranha, que também possui Rino como outro vilão  de origem russa. Para o Hulk temos o Abominável do filme de 2008 que foi um soldado russo. O maior representante do capitalismo, Tony Stark, tem em seu rol de vilões vários personagens que representam os ideais socialistas e comunistas, como Anton Vanko, que também apareceu em um de seus filmes.

Tratando-se da localidade, a Marvel tem Latvéria, um país fictício da Eurásia. O país onde Ultron se esconde em Vingadores 2 também está por lá.

Por fim, quem merece destaque é a Mãe Rússia, de Kick Ass, associando sua força e rigidez com suas origens soviéticas.

Bom, somos um site que fala de jogos né? Então vamos lá.

Correndo o risco de ser um pouco clichê, acredito que um jogo que representa bem essa visão américo-cêntrica de ideais é o spin off Red Alert de Command & Conquer.

Command & Conquer é um jogo de  estratégia em tempo real (RTS) que trata de guerras com tecnologias atuais. Seu maior spin off, Red Alert, tem uma história sensacional. Depois de um tempo da II Guerra Mundial, Albert Einstein começa a trabalhar em uma máquina do tempo e, assim que finalizada, ele a usa para voltar ao passado e eliminar Adolf Hitler da existência, de tal forma que não haja o nazismo. Albert Einstein foi uma pessoa perseguida pelos nazistas, pois era judeu, o que pode ter sido uma motivação para fazer isso. Quando voltou com o objetivo cumprido, percebeu que isso havia ocasionado um problema maior.

Sem a ameaça dos nazistas, Stálin com sua mente megalomaníaca começa a fazer com que a Rússia cresça de tal forma que consome toda a Europa, tornando-se uma ameaça para o mundo. A Rússia já era uma inimiga dos nazistas, e, na guerra real, apesar de ser aliada dos EUA, a União Soviética virou a vilã nesse jogo. Cabe então ao jogador controlar o heroico, triunfal e  capitalista exército americano contra as terríveis garras idealísticas da União Soviética.

Red Alert  demonstra bem o preconceito com a União Soviética. Sua vilanização foi tão grande que foi a substituta da Alemanha nazista na guerra. Nesse caso, há uma certa desculpa pelo fato de tratar-se de eventos ocorridos durante uma guerra, porém há outros casos em que, mesmo se passando em tempos atuais ou futuros, o país mais extenso do mundo é retratado como vilão. A seguir citarei alguns deles. 

Tratando-se não de um jogo, mas fazendo parte de um, a animação Resident Evil Damnation retrata uma guerra civil que ocorre em uma parte pobre da Eurásia. Para vencer a guerra, um dos lados foi atrás do mercado negro para obter Armas Biológicas (BOW). Seguindo a visão comum americana, essa parte da Europa é retratada como pobre, e muitas vezes seus habitantes são considerados excêntricos em nossa visão ocidental. Assim, nosso herói Leon S. Kennedy é mandado para intervir por causa das BOWs.

Apesar de gostar de poucos FPS, reconheço sua importância. Uma coisa que me fascina neles são as histórias.

Call of Duty, com sua temática beligerante, não poderia escapar das garras preconceituosas, tornando a Rússia também uma inimiga, como foi com Call of Duty: Modern Warfare 3. Nele, uma super nacionalista Rússia começa a Terceira Guerra Mundial, por acontecimentos do jogo anterior. O primeiro Black Ops também trata a União Soviética como inimiga, pois em plena Guerra Fria, nossos amigos soviéticos roubaram uma arma experimental nazista. Novamente, o herói bandeirudo americano fica responsável em resolver esse problema.

Pergunto-me se, além de tratá-los como inimigos, Black Ops também retrata que a URSS não é capaz de produzir seus próprios armamentos, tendo que roubá-los de uma guerra anterior…

Outro jogo que merece destaque nisso, é o tão aclamado GoldenEye 007 para Nintendo 64. Na verdade, como dito no início do post, toda a franquia 007 merece destaque por ter vilões soviéticos. Acontece que, neste jogo, os soviéticos estão produzindo uma arma química para distribuir aos regimes hostis que apoiam, e James Bond tem que ir lá destruir a fábrica. A história começa assim, tendo muitos outros problemas sendo acarretados por isso.

Voltando para uma das minhas franquias preferidas, Resident Evil também possui russos sendo tratados como vilões.

Em Resident Evil: The Umbrella Chronicles, Sergei Vladmir, um ex-coronel da União Soviética, é um dos vilões no capítulo exclusivo do jogo. É retratado como um homem forte, com habilidades físicas altíssimas e um dos extremamente ratos seres humanos compatíveis com os experimentos da Umbrella. Por causa disso, foi elevado a um cargo de confiança e tinha o interesse em colocar sua terra natal, a Mãe Rússia, de volta ao topo do mundo.

Como sempre, os heróicos norte-americanos impediram-no de seu plano maléfico de levar a também maléfica e cheia de péssimas intenções Russía a ser um país mais relevante para o mundo.

Essa imagem é reforçada em alguns jogos, como por exemplo o Zangief que usa uma cueca vermelha, somente porque a cor do comunismo é vermelha. Existe também uma figura interessante no jogo Punch Out, chamada Soda Popinski. Como dito no outro texto dessa série, escrito pelo Leandro Tovar (aqui), o preconceito é tanto que ele precisa beber pra ter mais energia.

Basicamente, qualquer confronto envolvendo nações em videogames e outras mídias da cultura pop geralmente terão Rússia (ou Alemanha) de um lado e EUA do outro. E os EUA sempre serão os mocinhos da briga, isso podemos ter certeza. 

O pior é que a internet ajudou a disseminar esse preconceito, então sempre vemos imagens com memes mostrando o quanto os russos são diferentes de nós, muitas vezes considerando-os como loucos, como o fato de que eles colocam tapetes nas paredes. Essa imagem se construiu pois somos bombardeados somente com as coisas diferentes que eles fazem.

A população russa deve sofrer, dia após dia, vendo sua terra natal sendo difamada por obras que têm alcance mundial. Assim como os alemães, a população da Rússia sofre por erros que governantes do passado cometeram. Já parou para pensar que nós brasileiros ficamos ofendidos com o simples fato de sempre sermos retratados como selva nos filmes e jogos? Imaginem se quase todas as obras que temos de um determinado gênero nos retratassem como bárbaros e vilões? É isso que eles sofrem. 

Talvez eles também tenham uma imagem preconceituosa de nós. Mas vamos tentar ultrapassar esse preconceito superando as diferenças que nos são pregadas.

Sabe de mais jogos que retratam isso? Tem mais informações dos jogos que disse? Conte-nos nos comentários. Inclusive, se você é russo, tem parentes russos ou conhece alguém que pode somar na discussão sobre esse preconceito, diga-nos também!!

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Kiefer Kawakami

Sobre mim: Amante dos games, acredito que eles podem mudar a vida das pessoas e fazê-las mais felizes, bem como aconteceu comigo. Possuo um amor incondicional pela Nintendo desde Donkey Kong Country e Super Metroid. Sou multidisciplinar e sei pouco sobre muita coisa, mas o suficiente para relacionar assuntos distintos. Além disso, quero divulgar os games para que as pessoas vejam a maravilha que são e podem ser.

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