[REVIEW] Little Nightmares 3 – Mais, mas não do mesmo!
Little Nightmares 3 marca a primeira entrada principal da série sob o comando da Supermassive Games (mesma desenvolvedora do jogo Until Dawn). Lançado em outubro de 2025, o jogo introduz a maior mudança da franquia até agora: o modo cooperativo obrigatório (seja online ou com IA). Mas será que o jogo atende às grandes expectativas que os fãs tinham? Ou será que não passou de um pequeno pesadelo?
Ficha Técnica
Título: Little Nightmares 3
Plataforma: Nintendo Switch e Nintendo Switch 2
Data de lançamento: 09/04/2025
Tamanho: Nintendo Switch: 9.5 GB | Nintendo Switch 2: 7.3 GB
Desenvolvedora: Supermassive Games
Publicadora: BANDAI NAMCO Entertainment
Jogadores: 1 ou 2 (apenas online)
Em Português: Sim
Gênero: Ação e Aventura
Tempo de Jogo (em média): 9 horas
Classificação: 14 anos
Preço no Lançamento (BR): R$ 199,50
Enredo e Protagonistas: Low e Alone
O jogo nos apresenta a Low e Alone, duas novas crianças presas na distorcida realidade de Nowhere. Diferente de Six e Mono (personagens dos jogos anteriores), os novos protagonistas são menos indefesos; Low carrega um arco para interagir à distância e Alone empunha uma chave de roda para quebrar obstáculos e operar mecanismos. Contudo, apesar do potencial, a narrativa se mostra, comparativamente aos outros jogos, superficial, e os novos “habitantes” do Nowhere, como o bebê gigante da Necrópole ou a mulher-aranha, parecem genéricos demais, faltando-lhes aquele “que” de horror inexplicável e subconsciente que caracterizava os inimigos anteriores.

Jogabilidade e Puzzles: O Dilema do Co-op
A dinâmica cooperativa é a base, e o calcanhar de Aquiles, de Little Nightmares 3. Para quem joga sozinho, a experiência é minada por uma Inteligência Artificial inconsistente. No início do jogo, o jogador escolhe qual o personagem que deseja controlar, sendo o outro controlado pelo computador. Contudo, a IA frequentemente se prende no cenário ou falha em executar ações no tempo certo, quebrando a imersão. Ironicamente, em outros momentos, a IA age de forma eficiente até demais, correndo na frente para indicar a solução de um puzzle, drenando toda a tensão da descoberta. Essa falha é agravada pelo fato de os puzzles serem, em sua maioria, simples demais, com as novas ferramentas raramente sendo usadas, e quando são utilizadas, acabam sendo de maneiras criativas ou desafiadoras.

A principal nova mecânica, o modo cooperativo, foi implementada de forma surpreendentemente restritiva. A decisão de limitar o modo co-op apenas ao jogo online é um enorme passo em falso. Este era um título que implorava pela experiência compartilhada no mesmo ambiente, o clássico “co-op de sofá”, onde o suspense é vivido em conjunto. A ausência dessa opção é uma oportunidade perdida que frustra e limita o apelo do jogo. Contudo, aqui há que se destacar a sábia decisão de implementar o “friend’s pass”, em que apenas um dos jogadores precisa ter comprado o jogo para que ambos possam jogar juntos.
Um outro ponto a se destacar é que, mesmo quando se joga online, a jogabilidade cooperativa introduz novos problemas, especialmente nas sequências de fuga. O jogo exige uma precisão quase milimétrica. O espaço para acertar a corrida ou a ação é tão pequeno que acaba se transformando em frustração. Prepare-se para morrer e repetir o mesmo trecho exaustivamente, num ciclo de tentativa e erro que destrói o suspense.

Por falar em suspense, o que definia a série era a sensação de vulnerabilidade constante, uma ameaça que permeava cada sombra e rangido. Aqui, essa tensão atmosférica foi diluída. O jogo abandona o terror persistente e o substitui por uma estrutura linear e, até certo ponto, simplista demais. A experiência agora se resume a “pontos de perseguição” frenéticos ou “pontos de stealth” bem definidos, mas ambos são básicos em sua execução. Você raramente se sente caçado ou tenso; você está seguro até que o jogo decida que é hora de uma cena de ação, quebrando a imersão.
Para piorar, a colisão entre os dois protagonistas é um problema real. Em momentos de pânico, onde cada segundo conta, é comum esbarrar no seu parceiro, bloquear o caminho e resultar em uma morte injusta. A última coisa que você quer ao fugir de um monstro é ficar preso no seu próprio amigo.
Design e Atmosfera: A Estética Acertada
Onde Little Nightmares 3 não falha é em sua direção de arte e atmosfera. A Supermassive conseguiu replicar com maestria a sensação de pequenez opressiva, o design de som perturbador e a arquitetura impossível de Nowhere. O jogo é visualmente deslumbrante e grotesco, mantendo a estética sombria característica da série. Capítulos como o que se passa em uma espécie de parque de diversões bizarro são um verdadeiro destaque visual e atmosférico, provando que a nova equipe entendeu a linguagem visual da franquia.
Veredito
Little Nightmares 3 é, inegavelmente, o ponto de divisão da franquia. É crucial que os jogadores que chegam aqui esperando a mesma sensação de vulnerabilidade opressiva e terror psicológico dos dois primeiros jogos saibam de antemão: a proposta original foi suprimida. As críticas sobre a diluição do suspense e as frustrações do co-op são alertas válidos para os veteranos.
No entanto, isso não significa que Little Nightmares 3 seja um jogo ruim. Pessoalmente, gostei da jornada. Uma vez que aceitamos que esta é uma nova visão, o jogo se revela uma competente aventura de plataforma sombria. A direção de arte continua competente e a jornada de Low e Alone, apesar dos problemas de IA e design, ainda oferece momentos genuinamente cativantes.
O que perdemos em terror intenso, ganhamos em acessibilidade. Este título encontra um novo público: aqueles que sempre admiraram a estética grotesca da série, mas se sentiam intimidados pela ansiedade constante. Se você procura uma aventura cooperativa mais tranquila, focada em puzzles leves e uma atmosfera melancólica, sem o peso do verdadeiro horror, Little Nightmares 3 é uma experiência que ainda vale a pena.
Trailer do Jogo
* esta análise foi escrita utilizando uma chave fornecida pela Bandai
